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Sábado, 15 Junho 2019 03:57 Última modificação em Quarta, 03 Julho 2019 15:55

Venezuela: Compreender a guerra que aí vem Destaque

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País: Venezuela / Direitos nacionais e imperialismo

[Romain Migus] Elementos estrangeiros do exército das sombras (paramilitares, mercenários e forças especiais).

A ofensiva imperialista contra a Venezuela segue em muitos aspectos um modelo bem conhecido. Aliás, a administração Trump confirmou-o quando encarregou Elliott Abrams da questão venezuelana. A cúpula imperialista há muito tem como aliado preferencial a escumalha do mundo do crime organizado e da extrema-direita. Da Colômbia a Israel, mobiliza-a e arma-a contra o processo bolivariano. E paga-a com os milhões roubados à nação venezuelana, parte dos quais passa por Portugal.

Em 14 de Março de 2018, Erick Prince, fundador da empresa privada Blackwater Military Company, reuniu cerca de cem celebridades no seu rancho de Virgínia. O convidado de honra naquele dia não era outro senão Oliver North, a figura principal juntamente com Elliott Abrams - o actual enviado especial dos EUA à Venezuela - para a guerra suja contra a Nicarágua na década de 1980 ( ). Este retorno de Erick Prince ao centro das atenções, depois de ter sido marginalizado pelos governos dos EUA (tal como o seu colega Abrams), deveria ter sido um sinal de alerta. Mas é apenas um ano depois que descobrimos que o fundador da Blackwater se estava a preparar para recrutar 5.000 mercenários por conta de Juan Guaidó (). Este plano macabro não teria, por agora, encontrado eco na Casa Branca, todavia sensível à influência de Prince, nem o financiamento necessário de 40 milhões, soma ridícula se se considerar o roubo pela administração dos EUA de milhares de milhões pertencentes ao Estado venezuelano.

No entanto, o recrutamento de mercenários já começou. Em 29 de Novembro de 2018, o presidente Maduro denunciou num discurso televisionado a constituição de um batalhão de 734 cães de guerra nas bases militares de Eglin na Flórida, e de Tolemaida, na Colômbia. Em 23 de Março de 2019 o ministro das Comunicações, Jorge Rodríguez, anunciava que 48 mercenários recrutados em El Salvador, Honduras e Guatemala tinham entrado em território venezuelano a fim de levar a cabo atentados contra as mais altas autoridades do país, bem como actos de sabotagem e operações de bandeira falsa (). Segundo os serviços de informações da Venezuela, esses mercenários tinham sido recrutados por Roberto Marrero, o braço direito de Juan Guaido (). Quer seja via Erick Prince ou por outros meios, o recrutamento de mercenários para desestabilizar a Venezuela é uma sinistra realidade.

No dia da prisão de Marrero, os serviços de segurança venezuelanos capturaram Wilfrido Torres Gómez, aliás Necocli, chefe do bando narco-paramilitar colombiano “Los Rastrojos”. Tal como os mercenários, os paramilitares colombianos são um actor estrangeiro fundamental no futuro exército de que Guaido poderia dispor.

Paramilitares são uma excrescência do conflito colombiano. Criados primeiro por proprietários de terras e por militares, ou na esteira dos cartéis da droga, estes grupos encarregados ​​das tarefas mais inconfessáveis foram reunidos sob o comando das Forças de Autodefesa Unidas da Colômbia (AUC). De 1997 a 2006, fizeram o terror reinar, deslocando populações inteiras em território colombiano e encarregando-se dos abusos que os serviços do Estado não queriam assumir. Sob o governo de Álvaro Uribe (2002-2010), os paramilitares adquiriram presença real na cena política, forjando laços com responsáveis políticos e económicos e chegando até a financiar um terço dos parlamentares deste país, como mostraram os documentos capturados no computador do líder paramilitar Jorge 40 (). Se a sua principal actividade continua ligada ao tráfico de cocaína, os paramilitares actuam como um estado paralelo e influente. Dotados de uma autoridade adquirida através de uma extrema violência e terror psicológico, eles impõem as suas normas sociais, políticas e económicas aos territórios que controlam. A “desmobilização” das AUC em 2006 teve por consequência a sua implosão em estruturas menores, que mantiveram o mesmo modus operandi.

Os paramilitares colombianos chegam à Venezuela depois do golpe de Estado contra Hugo Chávez em 2002. Primeiro como assassinos a soldo de certos proprietários de terras, preocupados em eliminar os líderes camponeses que reivindicavam a aplicação da reforma agrária. Começam a investir sobre certas zonas das grandes cidades enquanto permanecendo muito activos na fronteira venezolano-colombiana.

Tornam-se conhecidos dos venezuelanos em Maio de 2004, depois de 124 paramilitares serem presos nos arredores de Caracas. Tinham sido trazidos por Roberto Alonso, um político da oposição, com o objectivo de assassinar Hugo Chávez e altos responsáveis da Revolução. Ao longo dos anos, a sua presença reforçou-se ao longo da fronteira (), tal como em algumas áreas das grandes cidades, onde constituíram várias células dormentes. Sem esquecer o eixo de comunicação estratégica que leva dos Andes à costa caribenha, corredor essencial para a distribuição da cocaína. É nessa parte do território que a maioria dos líderes paramilitares que estavam na Venezuela foram presos ou mortos. É também neste eixo que se encontram, e isso não é coincidência, as cidades onde ocorreram os confrontos mais duros quando das guarimbas de 2014 e 2017.

Ao contrário do crime organizado “clássico”, os paramilitares dispõem de uma hierarquia militar, de um aparelho de informações, de um armamento adequado, mas, principalmente, agem em função de uma politização marcado pelo seu anticomunismo, adquirida a partir da sua gênese na luta contra a guerrilha. Eles impõem a sua orientação ideológica às populações que submetem. Ao contrário do submundo, mantêm muito boas relações com as elites colombianas, para quem desempenham o papel de um exército paralelo. A sua utilização contra a Venezuela permitiria à Colômbia não desguarnecer as frentes internas que o seu exército mantém com a guerrilha.

Na fronteira com a Venezuela, os paramilitares controlam o tráfico de drogas bem como o contrabando de gasolina e alimentos. Como Freddy Bernal, prefeito desta região, nos lembrou em entrevista exclusiva “A Colômbia produz 900 toneladas de cocaína. Para produzir um quilo, necessitas de 36,5 litros de gasolina e a Colômbia não produz o suficiente. Os paramilitares são encarregados de encaminhar ​​pela via do contrabando 36 milhões de litros de gasolina provenientes da Venezuela destinada em grande parte à produção de cocaína “() e em troca controlam a distribuição de drogas no país vizinho, através de gangues criminosos venezuelanos.

Os confrontos do Estado Bolivariano com os paramilitares são cada vez mais recorrentes. Não apenas para lutar contra os seus múltiplos tráficos mas sobretudo para defender a soberania do Estado sobre o território. Segundo Freddy Bernal, “os paramilitares desempenham o mesmo papel que o Daesh desempenhou no Iraque, na Líbia e na Síria. Visam fragmentar o nosso território. São o Daesh da América Latina “(). São uma engrenagem essencial na atomização do Estado-nação venezuelano, um dos principais objectivos da guerra que se anuncia.

De Roberto Alonso a Roberto Marrero, há muitos exemplos mostrando que os paramilitares colombianos estão ligados à oposição venezuelana. Mas eles respondem também aos planos do Pentágono nas suas ações planeadas contra a Venezuela. Como nos revelou um documento do SouthCom, a força militar dos Estados Unidos responsável pela América Latina, os estrategas militares estado-unidense preconizam “recrutar paramilitares principalmente nos campos de refugiados em Cúcuta, La Guajira e no norte da província de Santander, vastas zonas povoadas por cidadãos colombianos que emigraram para a Venezuela e agora regressam ao seu país para escapar a um regime que aumentou a instabilidade nas fronteiras, aproveitando o espaço vazio deixado pelas FARC, o ELN ainda beligerante e as actividades [paramilitares] na região do Cartel do Golfo “().

Como pode ver-se, os Estados Unidos e seus aliados latino-americanos dispõem já de um exército. É composto por um punhado de desertores e de combatentes civis venezuelanos, de membros do crime organizado, de mercenários estrangeiros e paramilitares colombianos, tudo estruturado por forças especiais dos Estados Unidos, já presentes na região () e pelo apoio táctico dos exércitos de países vizinhos. Outros actores poderiam mesmo fazer-se convidar para este conflito. O que explicaria a presença de várias centenas de soldados israelitas no Brasil e em Honduras ().

O armamento dessa força militar irregular está também em curso. Como denunciou o governo russo pela voz de Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros daquele país, “os Estados Unidos e seus aliados da NATO estão actualmente a estudar a possibilidade de adquirir a um país da Europa de leste um importante lote de armas e munições destinado aos opositores venezuelanos. Trata-se de metralhadoras pesadas, de lança-granadas integrados e automáticos, de mísseis terra-ar portáteis, de diferentes munições para arma de fogo e peças de artilharia. Este carregamento deveria ser transportado para a Venezuela através do território de um país vizinho com a ajuda de aviões de carga da empresa estatal ucraniana Antonov “(). Não é necessário ser um especialista militar para compreender que esse tipo de arsenal é o mesmo que é usado pelos beligerantes que combatem contra a República Árabe da Síria. Neste caso, os Estados Unidos ou países vizinhos não teriam sequer que assumir um proeminente papel protagonista na guerra irregular contra a Venezuela.

Caso o estrangulamento económico, político e financeiro da Venezuela e as diferentes pressões psicológicas e diplomáticas não sejam suficientes para derrubar o presidente Maduro, então o cenário que descrevemos será inevitavelmente aplicado. Os diferentes componentes da frente militar terão a tarefa de desmantelar a Venezuela sem necessariamente responder a um comando central, mas com o objetivo comum de tornar impossível o controlo do território pelo poder legítimo. É conveniente analisar agora as estratégias para alcançar tais fins.

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