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Diário Liberdade
Quarta, 08 Junho 2016 20:47 Última modificação em Sábado, 11 Junho 2016 17:29

América Latina enfrenta Guerra de Quarta Geração

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País: América Latina / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Prensa Latina

América Latina vive no meio de uma disputa entre os projetos de liberdade e emancipação e as intenções das oligarquias de restabelecer o neoliberalismo e subordinar os povos aos interesses dos Estados Unidos.

Nessa difícil conjuntura o caminho é a unidade, expressou em entrevista exclusiva à Prensa Latina o intelectual, analista político e ex-ministro de Governo da Bolívia, Hugo Moldiz.

Durante a entrevista, Moldiz referiu-se à arremetida contra os governos progressistas na região, ao papel dos meios de comunicação nestas campanhas e ao debate nacional em torno da convocação de um novo referendo para a recandidatura presidencial.

PL: Na atualidade, há uma ofensiva contra o processo de mudanças na América Latina. Quem está por trás desta campanha?

Hugo Moldiz: A arremetida existe há quase 17 anos, quando começou uma onda revolucionária que - de maneira quase inesperada - jogou abaixo a tese do pensamento único, do mundo unipolar e da vitória definitiva do capitalismo e sua variante tática, o neoliberalismo.

Começou com o triunfo de Hugo Chávez nas eleições presidenciais efetuadas na Venezuela em 1998 e continuou depois na Argentina, Brasil, Equador, Bolívia e em outros países.

Todos estes processos foram assediados com ameaças de golpes de Estado, magnicídio, sanções econômicas, e inclusive, intervenções militares.

Qual é a diferença com o que se passa hoje? É que após a morte de Chávez, um grande articulador continental, o império e as oligarquias, que são os dois grandes atores, chegam à conclusão de que é momento de uma contraofensiva.

PL: Qual é o objetivo desta contraofensiva?

HM: Tem vários propósitos. Do ponto de vista econômico reativar a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), que se traduz na Aliança do Pacífico e na Associação Transpacífico, cujo objetivo é subordinar a América Latina aos Estados Unidos.

Politicamente, busca-se reconstituir governos de viés neoliberal, o que significa privatização, achatamento do Estado, demissão de trabalhadores, e uma demonstração clara é o que está ocorrendo hoje na Argentina do presidente Mauricio Macri.

Mas também tem um objetivo geopolítico mais amplo, que é criar uma espécie de contenção frente ao crescimento da economia chinesa e ao papel que política e militarmente começa a ter novamente a Rússia, como um sinal de avançar para um mundo multipolar.

PL: No caso da Bolívia, como se deu esta agressão ao governo do presidente Evo Morales?

HM: Através de um método bastante novo na Bolívia, mas com antecedentes na região, que é o que se chama "A guerra de IV Geração", isto é, o uso da mentira como arma de desestabilização e de geração de conflitos, e para desgastar e manchar a liderança do primeiro presidente indígena do país.

Tudo isso com o respaldo de redes sociais e meios de comunicação, que com muita precisão estão sendo chamados de Cartel da Mentira.

PL: Frente a esta estratégia, qual deve ser a resposta da América Latina?

HM: A Unidade. América Latina deve seguir demonstrando que uma maior autonomia frente aos Estados Unidos é um caminho que convém a todos, não só aos Governos de esquerda, mas também aos de direita, se algo de dignidade têm ante suas populações.

Assim entenderam todos quando se criou a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), onde convergem governos de linhas diferentes, mas que encontram um espaço para debater problemas comuns e ameaças do século XXI, como o narcotráfico e o terrorismo.

O império vai tentar quebrar a CELAC para fazer ressurgir a Organização de Estados Americanos, vai tentar matar o Mercado Comum do Sul através de uma maior liberalização, e vai tentar minimizar o impacto da União das Nações Sul-Americanas.

Também tentará eliminar o projeto da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América que tão brilhantemente foi lançado em Havana em 2004 pelos presidentes Fidel Castro e Hugo Chávez.

Ante esta situação, os Governos têm que ser cada vez mais eficientes, mas ao mesmo tempo voltar a fazer trabalho político.

PL: Voltando ao tema da Bolívia. Você foi o coordenador da Campanha pelo Sim no referendo de 21 de fevereiro sobre a recandidatura presidencial, onde o Não se impôs por estreita margem. A que se deve este resultado?

HM: A várias razões. Considero que continua válido o pensamento de Karl Marx quando dizia que a realidade é expressão de múltiplas causas, não de uma só.

Evidentemente constatou-se que é necessário acompanhar a gestão com trabalho político. Se não existe isto, os setores que abandonaram a pobreza e se incorporaram à classe média muitas vezes mudam sua posição em relação ao governo do qual se beneficiaram.

Por outro lado, houve uma estratégia de mentira, manipulação e medo por parte da oposição.

Utilizou-se o caso de Gabriela Zapata, ex-gerente comercial da empresa chinesa CAMC, com quem o presidente teve uma relação no passado, para tentar acusar o chefe de Estado de tráfico de influências, e ainda que o tema tenha se desmontado, conseguiram o objetivo de evitar a vitória do Sim no referendo.

Por outra parte, os que apostavam pelo Não tentaram infundir medo e jogaram muito com a derrota de Cristina Fernández na Argentina e o triunfo da oposição nas eleições legislativas venezuelanas.

E acrescentaria uma quarta, é que o controle político e territorial do Governo e dos movimentos sociais não foram complementados com uma presença hegemônica nem nos meios de comunicação, nem nas redes sociais.

PL: Que papel jogaram os meios de comunicação e as redes sociais nesta campanha?

HM: Foram os elementos perversos da estratégia oligárquico-imperial e os subestimamos. É um erro que autocriticamente devemos assumir.

Os meios e as redes criaram um ambiente favorável para a oposição que, no entanto, lhes deu uma vitória pírrica, porque com semelhante mentira muitos esperavam uma vantagem de 10 ou 15 pontos, mas 49% da população resistiu de maneira estoica esta manipulação.

PL: Depois que uma investigação demonstrou a falsidade das acusações vertidas contra o presidente pelo agente encoberto dos Estados Unidos, Carlos Valverde, vários setores sociais estão reclamando um novo referendo. Você acredita ser viável esta possibilidade?

HM: Constitucionalmente não existe nenhum impedimento para realizar uma nova consulta sobre o mesmo tema.

A atual Carta Magna estabelece que pode ser feita uma reforma total à constituição, através da Assembleia Constituinte, e parcial pela apresentação de um projeto como o de 21 de fevereiro por iniciativa popular.

Em segundo lugar é legítimo que as organizações sociais, grandes forjadoras deste processo articulado com a liderança de Evo se sintam agredidas, doídas e enganadas por esta estratégia e proponham um novo referendo.

A posição do presidente é que em 2018 o Movimento ao Socialismo, as organizações sociais e o governo decidirão o caminho a empreender com vistas às eleições de 2019.

De modo que o debate político sobre a consulta está se dando, não sobre uma posição oficial, mas sobre a postura dos movimentos sociais.

PL: Como avalia que vão transcorrer os próximos quatro anos da atual administração?

HM: Por um lado, um Governo concentrado em sua gestão, em cumprir com o anunciado ao povo. Investir 50 bilhões de dólares até 2020 para reduzir a extrema pobreza a 9%, melhorar a saúde e educação, aumentar as infraestruturas e industrializar o país.

Mas também é de se esperar que a oposição, encorajada com o que pela mão do império estão fazendo contra o Brasil, Argentina, Venezuela ou Equador, continue desenvolvendo estratégias desestabilizadoras de "golpes suaves" contra o presidente.

Eis o desafio não só dos Governos, mas também dos movimentos sociais e das organizações de esquerda para derrotar estas ameaças contra a América Latina. O que fica para nós é uma longa luta.

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