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Diário Liberdade
Quarta, 27 Setembro 2017 10:26 Última modificação em Domingo, 01 Outubro 2017 19:23

Desabastecimento: chantagem do imperialismo contra a Venezuela

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País: Venezuela / Resenhas / Fonte: Causa Operária

A crise econômica na Venezuela tem sido combustível para os frequentes ataques contra o regime chavista, da esquerda e da direita.

Que a inflação chegará a quatro dígitos (1.157%) é uma unanimidade entre os economistas burgueses. A desvalorização da moeda é facilmente verificada nas ruas. As cédulas de 1.000, 2.000, 5.000, 10.000 e 20.000 foram introduzidas recentemente (nos últimos 12 meses) para dar conta da escassez de moeda corrente. Até então a maior denominação era de 100 bolívares. A inflação passou a subir em 2013, quando saltou de 21,1% ao ano para 40,6%. Subiu 50% no ano seguinte e dobrou em 2015, chegando a 121,7% e dobrou novamente em 2016, chegando a 254,9%.

Uma arma da direita e do imperialismo contra o povo venezuelano

O desabastecimento é a outra face da moeda e a que está sendo explorada com maior intensidade pela burguesia e o imperialismo.

Um dos principais diários da oposição golpista, El Nacional, anuncia que em agosto a escassez de alimentos foi de 73,4%. Na capa, a manchete: “de dez alimentos sete são escassos e não há perspectiva de que voltem a aparecer”. A estimativa é da agência Ecoanalítica, apresentada no fórum empresarial “Navegando em águas turbulentas”. O jornal destaca ainda que “famílias vendem aparelhos ou deixam de fazer uma refeição para poder mitigar a crise”.

O parecer da agência, os dados e as demais matérias do diário golpista remetem a um só objetivo: acusar o governo pela crise econômica. “O chavismo acabou com as empresas”, dizem.

O índice proposto pelos economistas burgueses é mesmo assustador. Eles “prevêem que ao final do ano a economia terá encolhido 12,3% e a inflação chegará a 1.157%”. Até agora, segundo eles, teria ocorrido uma queda no consumo da ordem de 25%.

É um instrumento de intimidação da população e de pressão sobre o governo.

“Ajuste fiscal”: a operação-padrão antes do golpe de Estado

Os economistas e a direita golpista na Venezuela têm repetido como um mantra, em seus meios de comunicação, a afirmação de que a contração econômica, acumulada no período de quatro anos, é uma situação “nunca antes vista” e que é “própria de nações em guerra”.

Francisco Ibarra, diretor da empresa de consultoria empresarial Econométrica, diz ao El Nacional que “as perspectivas econômicas para o que resta do ano não são alentadoras. Diante da ausência de um plano de ajuste, o que se pode esperar para os próximos meses é que persista a queda do PIB, que a inflação acelere muito mais e continue a desbarrancada do consumo”.

A frase destacada em negrito é a chave para entender o que está em jogo. Ela revela um programa político da burguesia e do imperialismo para a Venezuela. A reivindicação da direita, seu programa, é apresentada em seguida no jornal.

“Enquanto persistir o déficit fiscal e o governo continuar pedindo ao Banco Central que emita dinheiro para cobri-lo, a inflação continuará dando saltos, afetando a qualidade de vida dos cidadãos. Ainda que não tenhamos chegado à hiperinflação, estamos namorando com ela”, disse Ibarra.

Exigem do governo um ajuste fiscal (corte nos gastos públicos, fim do endividamento, “austeridade”, “superávit” etc.) É o mesmo que se viu no Brasil nos anos que antecederam o golpe de Estado contra o governo de Dilma Rousseff.

A direita ataca sistematicamente todos os expedientes de que o governo lançou mão para responder à crise econômica.

Assim, o chamado Plano 50, por meio do qual o governo decidiu tabelar os preços de algumas mercadorias essenciais para garantir que a hiperinflação não se converta em pura especulação dos capitalistas com os preços de itens básicos de consumo, é recebido pela burguesia com uma ameaça: “Não se pode solucionar os problemas implementando mais controle. Se insistirem por esse caminho, o que vão conseguir é voltar aos níveis de escassez de fins de 2015”.

São contra a distribuição de cestas básicas para famílias pobres pelo governo (as chamadas CLAP, que custam o equivalente a um quilo de açúcar, vendido nos mercados a cerca de 15.000 bolívares). Sendo impossível convencer as famílias trabalhadoras a abrir mão das CLAP e passar fome, a direita encontra um meio para atacar o governo: “não chegam a 69% dos lares em Zulia, Miranda e Vargas”. São contra, mas não deixam de acusar o governo.

Enquanto os planos do governo não forem derrotados, as compras no exterior vão continuar caindo o que vai gerar mais escassez. “Ao fim de 2017, as importações terão se contraído na ordem de 23%”, dizem.

Tais acusações são, na realidade, uma ameaça. Se o governo reagir, haverá mais desabastecimento. E como podem fazer essa ameaça? Fazem-no porque os que atribuem a crise e o desabastecimento ao governo são, na realidade, os que têm as rédeas sobre a vida econômica do país, os empresários detrás da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria da Venezuela (Fedecámaras) e seus lacaios.

Para preservar seu poder econômico e tentar subjugar o governo, os empresários venezuelanos e as empresas estrangeiras instaladas na Venezuela deixaram de importar, fecharam suas empresas, demitiram trabalhadores e moveram seus capitais para o mercado financeiro internacional. E assim continuam ganhando. Neste mesmo mercado financeiro, somente na última quinta-feira (21 de setembro) o governo pagou US$187 milhões de juros aos detentores de bônus da dívida soberana do país.

Por trás desta situação, o imperialismo, isto é, os grandes bancos e empresas que ditam a seu favor as regras na política e na economia mundiais.

“Há alguns meses há um lobby internacional para fazer um bloqueio financeiro contra o país e é o que têm conseguido para levá-lo a uma situação de inadimplência”, disse o analista financeiro José Ignacio Guarino ao diário El Universal, porta-voz da direita venezuelana (que apoiou imediatamente e sem reservas o golpe de estado contra Chávez em 2002).

Guarino afirmou ainda que “neste momento estão obrigando o país a cair em default, porque mesmo tendo os fundos já transferidos e estes não fazendo parte das sanções [que os EUA está impondo ao governo e à PDVSA], complicam a execução do pagamento aos detentores dos títulos”. “As sanções não estabelecem o congelamento das operações que estão em andamento (…) Os bancos e contrapartes norte-americanos não deveriam se negar a pagar”.

A pressão do imperialismo sobre o governo venezuelano visa levá-lo à insolvência e, com isso, forçar sua queda para dar lugar a um governo alinhado à política neoliberal que o imperialismo está tentando impor no Brasil e em outros países neste momento.

Está em marcha uma operação-padrão do imperialismo na Venezuela, muito parecida com a que se viu em ação no Brasil e que pavimentou o caminho para a derrubada de Dilma Rousseff. Todos os ingredientes já estão na panela: inflação, desabastecimento, desemprego e a reivindicação de um “ajuste fiscal” como solução milagrosa que só um governo encabeçado pela direita em torno à Mesa de Unidade Democrática (MUD) pode aplicar.


Este artigo faz parte da cobertura do Diário Causa Operária Online direto da Venezuela. Escrito em Caracas, a matéria faz parte do especial sobre o país latino-americano. Clique aqui e acompanhe o que acontece de verdade na Venezuela.

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