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Diário Liberdade
Sexta, 06 Julho 2018 10:02 Última modificação em Quarta, 18 Julho 2018 19:42

Balcanização da América do Sul – e o papel das 5ªs Colunas pelo mundo Destaque

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País: América Latina / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: The Saker Blog

[Peter Koenig, Tradução da Vila Vudu] Durante recente encontro em Caracas da Comissão Presidencial de Aconselhamento Econômico, em meados de junho de 2018, o presidente Maduro disse algo perturbador, mas também excepcionalmente interessante – e nos dois casos muito importante, que merece máxima atenção de toda a região.

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O presidente Maduro falou da Iugoslávia, dos conflitos locais induzidos, das rupturas e do desmembramento da Iugoslávia, que começou com a "Guerra dos Dez Dias" contra a Eslovênia em 1991; seguida pela Guerra da Croácia (1991-95); a Guerra da Bósnia (1992-95); a Guerra do Kosovo (1998-99), que culminou com os 69 dias de bombardeio pela OTAN ordenado por Clinton contra o Kosovo, e que foi comandado pelo então comandante europeu da OTAN Wesley Clark (hoje "O Arrependido" –, porque lastimar em retrospectiva é fácil), fingindo que salvava os albaneses do Kosovo que estariam sofrendo atrocidades da Sérvia de Milosevic. Como Milosevic serviu como pau mandado das forças imperiais é outra história.

Nada disso teria sido possível sem uma década de preparativos, operação entregue a várias 5as Colunas infiltradas, treinadas fora e dentro da Iugoslávia – o único país em toda a Europa que floresceu nos anos 1980s e 90s, com índices de bem-estar superiores à média dos europeus, os quais sofriam recessões, desigualdade crescente, o ressurgimento da xenofobia, em tempos de nascente neoliberalismo.

Na Iugoslávia não havia pobreza extrema, e havia prosperidade sem luxos, para todos. Havia crescimento, sob um socialismo de modelo maoísta 'leve', que, claro, não podia ser deixado livre para persistir nem, e muito menos, para servir de exemplo ao mundo explorado. 

Além disso – a violência que jogou no caos a Iugoslávia era indispensável para criar miniestados que, todos, se odiassem uns os outros, para viverem em conflito, como realmente aconteceu, em alguns casos até hoje. O conflito garantia espaço para a chantagem. Por preço módico, tudo sempre se arranjaria, desde, claro, que o 'novo país' aceitasse que se instalassem bases da OTAN em seu território, cada uma um passo mais próxima que a anterior, das portas de Moscou.

Pois Maduro, presidente da Venezuela, viu e vê tudo isso muito claramente. Muito frequentemente a história se repete, sobretudo quando vem sob a forma de atrocidades ocidentais neofascistas-neoliberais, e encontra a memória dos povos já quase completamente zumbificada por mentiras-propaganda-jornalismo. 

Verdade é que já praticamente não se encontra na mídia-empresa ocidental e no jornalismo de massas nenhuma notícia que seja ao mesmo tempo democraticamente relevante, verdadeira em relação aos fatos e publicada. Nos veículos da grande mídia-empresa ocidental só circula noticiário forjado construído para propaganda [ing. fake news]. 

O presidente da Venezuela Nicolás Maduro parece ser o primeiro a ver que o plano "deles" para a América Latina é em tudo semelhante ao que "eles" fizeram à Iugoslávia. Provavelmente está certo. Todos os sinais apontam nessa direção.

Um pacto entre Colômbia e OTAN, chamado "Acordo de Cooperação de Segurança" foi assinado pela primeira vez em junho de 2013 – mas preparado muito antes. Há registros dos primeiros contatos para esse fim, por Juan Manual Santos, então presidente da Colômbia – e Prêmio Nobel da Paz em 2016 por ter assinado um traiçoeiro Acordo de Paz entre o governo da Colômbia e as FARC – já no início de 2012.

O presidente Hugo Chavez foi o primeiro a alertar seus parceiros latino-americanos sobre a iminente infiltração (clandestina) da OTAN na América do Sul. Ninguém ouviu. Hoje já é fato consumado – tarde demais para resistir. 

Tropas da OTAN estão ocupando gradualmente todas as sete bases militares norte-americanas na Colômbia. As bases dos EUA são simplesmente convertidas em bases da OTAN – que com certeza parecem mais 'palatáveis'. Na cabeça das populações desgraçadamente ainda mal informadas ou desinformadas, OTAN seria sinônimo de segurança. 

Mas o que, diabos, faz uma Organização do Tratado do Atlântico Norte... no Pacífico Equatorial?! Ora! É sempre a mesma farsa da 'segurança' que a OTAN encena no Afeganistão e nos bombardeios contra casamentos em todo o Oriente Médio.

A Venezuela fervilha de 5as Colunas e colunistas. São esses que facilitam a manipulação altamente especulativa e inflacionária, de Miami, da taxa de câmbio do dólar no mercado negro nas ruas em Caracas; são esses que operam na Venezuela o que operaram no Chile 1973, fazendo sumir produtos dos supermercados, itens importados e devidamente pagos, alimentos, medicamentos, que são desviados e acabam contrabandeados para a Colômbia. Tudo, sempre, acompanhado de jornalismo de propaganda, para indispor a população contra o governo.

Até aqui, a estratégia não tem surtido efeito. Dia 20/5/2018 o presidente Maduro foi reeleito por ampla maioria, em eleições que foram as mais atentamente 'fiscalizadas' por observadores internacionais de todos os tempos, e que foram declaradas "as eleições mais limpas e democráticas que testemunhamos em nossa história de observadores de, até agora, 92 eleições em todo o mundo" – pelo Instituto Carter, com sede nos EUA.

Mas os 5as Colunas não descansam. Em absolutamente todo o mundo. Estão implantados nos aparatos de governo, nas instituições, entre os militares, nas Polícias – até nos Parlamentos – e, ainda mais importante, no sistema financeiro e, em muitos casos, dentro dos Bancos Centrais. 

Essa gente "permite" ou, melhor dizendo, promove, a manipulação do mercado negro do EUA-dólar, o que faz a inflação subir alucinadamente, o que também esvazia as prateleiras de comida e de medicamentos.  Essa gente interrompe serviços de eletricidade, internet e de distribuição de água. 

A abordagem é semelhante em todos os países que se recusem a curvar-se ante o Império. Na Rússia, Irã, China, Síria, Sudão do Sul, possivelmente até em Cuba – os 5as Colunas controlam o sistema financeiro – 'posição' de onde podem controlar os meios para se automanterem, sempre via a fraude do sistema do EUA-dólar ocidental, com o qual muitos países ainda mantêm alguns laços – menos, felizmente, a cada dia.

Na Rússia, por exemplo, o Banco Central ainda é comandado pela 5ª Coluna, cujo 'grande chefe' é o primeiro-ministro Dmitry Medvedev – arquiconhecido Integracionista Atlanticista –, recentemente reconduzido ao mesmo cargo pelo presidente Putin depois de reeleito. A estrutura do Banco Central da Rússia é ainda hoje quase totalmente idêntica à do Banco Russo de Reserva, gente nomeada pelo EUA-Fed depois do colapso da União Soviética, com a ajuda dos escroques de Bretton Woods, FMI, Banco Mundial, com máscaras de ONU.

Do mesmo modo, parte dos promotores mascarados da instabilidade mundial são os associados regionais de Bretton Woods, os chamados bancos regionais de desenvolvimento – Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD), o Banco Africano de Desenvolvimento (BAfD) e seus capangas sub-regionais. Nos anos 1990s, a Organização Mundial do Comércio (OMC) integrou-se também à mesma gangue. E aí estão, sempre, as três organizações de finanças e comércio mais odiadas organizações internacionais de finanças e comércio apoiadas pela ONU: FMI, Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio. 

Essas três organizações vivem de promover a 'livre-marketação' por todo o planeta, especialmente no hemisfério sul (mas não deixaram de atacar a Grécia e o sul da Europa), escravizando os países, pelas dívidas nacionais, aos empresários e banqueiros oligarcas ocidentais. Tudo bem estruturado e azeitado para controlar o sistema financeiro mundial – de modo a que todo o mundo caminhe na direção de se render a hegemonia de uma Economia Global Unipolar. 

Já estamos bem próximos disso, mas ainda não estamos lá. Sempre há uma esperança. O derradeiro fio que prende o homem à vida é a esperança. E só os homens e as sociedades podem traduzir esperança em realidade. Assim sendo, enquanto tivermos vida, não será tarde demais.

Mas... por que é tão difícil – pode-se dizer impossível, livrar nossos países dessas 5as Colunas e colunistas, a praga que dá cabo de todos os sistemas políticos não alinhados? – Por que o presidente Putin renomeou Medvedev, outra vez, como seu primeiro-ministro? – 

Claro que o presidente Putin sabe que Medvedev apoia uma rede de oligarcas Integracionistas Atlanticistas que só pensam em derrubar o governo Putin, quer dizer, 'mudar o regime' – e, mais recentemente, em destruir o sistema econômico capitalista, sim, mas que visa a reduzir as diferenças sociais, sob o qual a Rússia vive e prospera já há 20 anos. Nesse período a Rússia tornou-se autossuficiente em agricultura, alimentos, indústria, ciência e alta tecnologia, medicamentos. 

A Rússia autodesenvolveu-se na direção de uma "Economia de Resistência" exemplar. Assim se converteu em modelo ao qual aspiram todos os "estados falhados" (na terminologia do ocidente), cada dia mais interessados em livrar-se do tacão – além das bombas e das democracias forjadas (fake democracies) que são o único resultado conhecido até hoje das operações e golpes para 'mudança de regime'.

Vários países ocidentais hoje só esperam por um líder – alguém com coragem para avançar. Rússia, China, Venezuela, Irã, Cuba são exemplos luminosos. Esses países estão gradualmente escapando do cabresto da economia ocidental dominada pelo EUA-dólar.

Por que, então, esses países, talvez mesmo também a Venezuela, tanto hesitam para se livrar de vez das respectivas 5as Colunas e colunistas?

Será que temem uma guerra civil, um banho de sangue? Sem dúvida, sim, todos vimos as agitações e a violência, nos últimos 12 meses, que acompanharam os preparativos para as duas eleições mais democráticas que a Venezuela conheceu – para eleger a Assembleia Nacional Constituinte, dia 30/7/2017; e para as eleições presidenciais, dia 20/5/2018, agitações e violência que fizeram perto de 200 mortos.

Os jornalistas imediatamente atribuíram as mortes à polícia e a forças militares, mas os únicos manifestantes armados nas ruas naqueles dias eram agentes armados e pagos por Washington, responsáveis por mais de 80% das mortes. Os chavistas defenderam e lutaram por seu próprio governo, com punhos e pés.

A questão permanece: por que o presidente Putin não se livra, de vez, da 5ª Coluna e colunistas? Será que teme uma guerra civil? – Minha avaliação é que não encontrariam apoio suficiente na Rússia, mas poderiam desmontar a economia nacional, uma vez que os sistemas financeiros na Rússia – especialmente o banking privado – continua controlado por esses Atlanticistas Integracionistas. 

Não que não estejam ativos também na China, mas parece que o presidente Xi Jinping tem melhor controle sobre eles.

E quanto ao Irã? Por que ainda conseguem manter-se e combater por 'acordos com o ocidente', i.e. pela manutenção do Acordo Nuclear do qual Trump retirou-se para, agora, se pôr a sancionar o Irã 'com as sanções mais duras que o mundo jamais viu' – em tudo tão parecido com o que disse Kim Jong-un, com quem Trump fez as pazes há poucas semanas? (Ou quase.) Nunca se sabe, com "O Donald", o que significam as frases de Trump, além de pôr fim a alianças e criar caos físico e sociopsicológico. E Trump está também ameaçando empresas europeias, principalmente as petroleiras, com sanções pesadas, caso mantenham os contratos que têm com o Irã.

Muitas se rendem. Entre essas, a Total, empresa franco-britânica; as italianas Eni e Saras; a Repsol espanhola; e a Hellenic Petroleum grega. No caso da Total, segundo o diretor do ramo venezuelano, em vez de suprir seus contratos com petróleo "de xisto" dos EUA, como Trump esperava que acontecesse, a Total está negociando com a Rússia, de modo a cumprir os compromissos de fornecimento de petróleo na Europa e noutros pontos. "Não podemos confiar que Bruxelas lute por nós; temos de nos defender nós mesmos" – disse o representante da Total.

De fato, o Irã não precisa de europeus que comprem seu petróleo. A Europa consome apenas 20% da produção iraniana de hidrocarbonos – quantia que a China facilmente absorveria. O mesmo vale para outras empresas europeias que talvez acompanhem Trump, como meio de autoproteção, e optem por romper laços com o Irã – como a gigante automobilística Peugeot-Citroen –, das quais o Irã também não precisa. Não passa de propaganda ocidental o noticiário segundo o qual as sanções e as respostas de empresas europeias estariam causando grave desemprego no Irã –, enorme exagero do que não passa de situação temporária. Como disse o presidente Rouhani, o Irã pode ter de enfrentar algumas dificuldades, mas se recuperará. É verdade. O Irã está bem embarcado em sua "Economia de Resistência" com vistas à autossuficiência, trabalhando para substituir importações e se auto-orientando para mercados orientais.

De fato, o Irã já está inserido na Comunidade Econômica Eurasiana, por enquanto como membro observador, e em breve será admitido como membro pleno à Organização de Cooperação de Xangai (OCX). 

Tudo isso considerado, por que nem o Irã pode livrar-se da sua 5ª Coluna e colunistas? É pergunta que só consigo responder com "por medo de guerra civil e confrontos sangrentos, que possam levar a uma intervenção militar pelo ocidente".

De volta à Venezuela – talvez medos similares impeçam o governo Maduro de tomar medidas drásticas, como declarar Estado de Emergência e tomar medidas drásticas de desdolarização para deter a inflação e a especulação, e fortalecer a moeda nacional, o bolívar, criando um lastro na criptomoeda venezuelana aceita internacionalmente, o petro.

Dia 20/5/2018, seis milhões de venezuelanos, principalmente chavistas, votaram majoritariamente em Maduro e seu governo, maioria de 68% dos votos, um sólido bloco de apoio popular. Se há diante de você a possibilidade de escolher entre (i) um movimento para levar seu povo à morte por fome e (ii) deixar-se levar por uma maioria sólida de 6 milhões de chavistas – a qual, contudo, logo começará a encolher, se o governo não oferecer ações claras –, o que fazer?

Talvez a única saída seja isolar economicamente os Integracionistas Atlanticistas e a 5ª Coluna e colunistas, atropelando o controle que parecem ter sobre o sistema econômico. De fato, os Integracionistas Atlanticistas controlam a economia baseada no EUA-dólar. Se o país se afastar do EUA-dólar, o mais provável é que percam os dentes.

A Venezuela enfrenta dilema terrível: morrer ou ser morta. Mas, de fato, já começou a se movimentar, com a criação do petro, nova moeda completamente separada do EUA-dólar, a moeda que tem lastro no petróleo e em minerais preciosos. Hoje, a Venezuela importa cerca de 70% do que come. E adivinhem de onde? Acertaram. A Venezuela vive de comida que importa dos EUA. Claro que a desdolarização, considerada à primeira vista, é desafio grave.

Impõe-se, claro, massiva diversificação de importações e o mais empenhado esforço para se tornar autossuficiente em alimentos. A Venezuela tem potencial agrícola para chegar à total autossuficiente alimentar. Entrementes, Rússia, China outros países eurasianos substituirão os EUA. Venezuela pode candidatar-se a ingressar como membro da Organização de Cooperação de Xangai, por que não? Afinal, a China já tem cerca de 50 bilhões de dólares investidos na Venezuela, principalmente na área do petróleo, e acaba de emprestar outros 5 bilhões de dólares para reequipar a indústria petroleira venezuelana. China e Rússia têm imensos interesses na Venezuela, para esses países uma excelente estratégia de defesa. O ingresso da Venezuela na OCX será outro grande passo para longe da economia do EUA-dólar.

A balcanização da América Latina está em andamento. Quando o presidente Maduro referiu-se às sete bases dos EUA na vizinha Colômbia, hoje ditas bases "da OTAN", ao longo de uma fronteira porosa de 2.000 km com a Venezuela, 1.500 km dos quais são fronteira de selva, absolutamente incontrolável, e fronteiras abertas e convidativas também com Peru, Equador e Brasil, disse tudo que havia para dizer. Será facílimo sufocar qualquer levante – a OTAN se encarregará, já agora praticamente aceita pelo 'mundo livre', como polícia universal, e aprovada pelo recém inventado, intacto, jamais eleito e autonomeado ao posto de governador do mundo, o G7. 

No momento o G7 está rachando, graças a deus e à patologia egocêntrica do presidente Trump, a tal "Vamos fazer a América grande, outra vez"; e graça à firme política do presidente Putin, de não intervir mas manter-se em posição estratégica de observador próximo.

E Trump? Aceitará continuar como principal pagador da OTAN? Recentemente, alertou os europeus para que comecem a ajudar (que aumentem a contribuição atual, para que atinja 2% do PIB de cada país, ou então... haverá consequências. OK. Mas que consequências? Reduzir a OTAN, o que prejudica gravemente os EUA? – E passar a contar só com insurgentes recrutados, treinados e assalariados 'localmente', por ação da CIA e de instituições dedicadas a pagar para 'mudar regimes' e 'democratizar' países pelo mundo (como a NED = National Endowment for Democracy, Organização Não Governamental do Departamento do Estado (sic)? Alianças de terroristas com Integracionistas Atlanticistas locais, caso a caso? E bastará isso, num mundo em rápida transformação de todo o sistema monetário e de pagamento internacional?

O esquema planejado pelos EUA para balcanizar a América Latina e, por extensão o planeta, é tão poroso quanto os 1.500 quilômetros de fronteira através da floresta tropical entre Colômbia e Venezuela. A hegemonia da economia do dólar está na balança. Só ações drásticas de países vítimas, mas valentes, como Venezuela, Irã e Rússia, podem quebrar a balança e destruir a hegemonia monetária do ocidente. 

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