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Segunda, 23 Mai 2016 00:31 Última modificação em Quinta, 26 Mai 2016 14:50

Da experiência petista às lutas de hoje: para um projeto de luta de base

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País: Brasil / Batalha de ideias / Fonte: Diário Liberdade

[Luís Fernando e Arthur Aquino(1)] Diversas são as análises sobre a “virada de mesa” arquitetada e operada pela oposição política, que, “coincidentemente”, estava inserida em todas as esferas públicas petistas desde 2003.

Essa análise parte deste ponto, ou seja, de como a situação política de maio de 2016 inicia-se em janeiro de 2003, se fragiliza com esquemas de corrupção e se desfaz pós 2014.


O projeto petista, pelo menos a retórica deste projeto, almejava o rompimento com as velhas instâncias oligárquicas que perpassaram a velha república, os anos de chumbo e desembocaram em 1989 como detentores da chave democrática que abriria as portas para uma nova sociedade. Previa redimir os atrasos históricos de uma sociedade que não queria compreender as distancias econômicas de suas diversas camadas populacionais; pretendia mudar o rumo de um país que, mas não exclusivamente, foi motor histórico de uma elite branca e europeizada, hoje, americanizada.


Tal projeto se conjuntura no escalonamento ao qual o PT traçou seu plano político. Desde 1989, o partido rumou ao poder mesmo estando inserido em um discurso político radical e numa postura de rompimento com o quadro político pós-ditadura. Entretanto, não conseguia convencer a sociedade da possibilidade de realização desses projetos, postura essa que se deteriorava com a ação da mídia brasileira. O que mudou em 2002? O discurso radical de rompimento alterna-se para um discurso domado pela percepção de que, no Brasil, fazer política é acima de tudo conformar-se com os mecanismos de poder que perpassam a estrutura política e se mantém vivos independente de qualquer projeto que almeje uma mudança estrutural profunda. O PT que antes descartava qualquer aliança para chegar ao poder compreendeu que só poderia tentar um projeto político “jogando o jogo”, e assim o fez.


Não se desconsidera que o PT tenha relegado suas linhas de ação política. O partido, a nosso ver, foi pontual em grande parte das políticas sociais, e para além do julgamento superficial de uma elite que não entende (e não quer entender) a perspectiva do “outro”, o grande legado político foi sem dúvida a amplitude do debate social sobre projetos sociais que democratizaram a visão da sociedade sobre ela mesma. A partir de 2002, e somente a partir de 2002, o debate sobre como está assentada nossa sociedade se fez presente e se sedimentou no profundo percurso político que este país tomará daqui pra frente. Entretanto, não fosse a reflexão e os projetos sociais iniciados na gestão petista, pouco teríamos a comemorar. As alianças feitas para se manejar um país desta monta e com tantas elites sedentas por poder, fez com que o partido e seus aliados articulassem uma conjuntura política que seria o começo do fim da gestão petista. De forma análoga, basta imaginarmos um tronco de árvore que parece firme até a chegada da primeira infestação de cupim. O perecimento político do partido se deu primeiramente a partir da cúpula. Muito foi feito – e as investigações federais nos mostram um pouco disso – para que tanto no âmbito municipal, mas prioritariamente, nos Estados e Federação, o PT manobrasse uma longa permanência na esfera de poder utilizando alianças promíscuas com a mesma elite a qual lutou para se distanciar na década de 80 e 90. Esse jogo político minou as bases aliadas e sociais, causando expurgos do partido, abrindo caminho para qualquer político que pretendesse a continuidade do projeto político acima referido. Seu erro foi crer que os aliados eram fiéis ao projeto. Entretanto, Maquiavel já alertava sobre a utilização de “exércitos mercenários” dizendo que: “se alguém tem o seu Estado apoiado nas tropas mercenárias, jamais estará firme e seguro, porque elas são desunidas, ambiciosas, indisciplinadas, infiéis; galhardas entre os amigos, vis entre os inimigos.” Fica bem claro que o projeto petista estava minado na base. A ilustração do castelo de areia, a qual a fragilidade dispensa maiores explicações, porém é notória para mostrar como que não poderia o PT – apoiado por hordas de políticos sem escrúpulo e instigados a manter seu status quo a qualquer custo – manter um projeto político sério e de longo prazo. Mistura-se a esse contexto, de inserção de novas legendas ao quadro partidário no poder, uma complexa rede de pagamentos e desvios para a manutenção do projeto de poder instaurado. Ele terá como pontos de inflexão o “Mensalão” e a “Lava Jato, sendo este último o golpe derradeiro nas pretensões petistas de continuidade no poder. Maio de 2016 viu a mesma base que antes servia de apoio voltar-se contra os projetos do partido, sustentada por redes de “auxílio” que englobaram a mídia, judiciário, empresários e financiamentos internacionais que não se sentiam satisfeitos com os resultados eleitorais de 2014.


Por outro lado, para além da complicada luta pelo poder, o desfecho de maio de 2016 abalou uma outra perspectiva. Esta por sua vez, refere-se ao momento pelo qual nossas crenças em uma sociedade mais justa estavam na base do projeto petista iniciado em 2003 e ansiadas desde o fim da ditadura. Não quero com isso dizer que o PT desiludiu àqueles que dele esperavam uma revolução em termos políticos. Estamos bem “vacinados” para saber que este tipo de conduta política raramente ocorre. Mas, se colocarmos que desde o início da república essa foi a primeira experiência de uma partido dito de esquerda (ou não) no Brasil, veremos que a parcela de responsabilidade atrelada às ações do PT eram e são muito grandes.


A partir da experiência petista, cabe refletirmos sobre como podemos formar novas bases de luta social por justiça e democracia. É prioritário refletir sobre o que queremos enquanto oposição, enquanto “progressistas”. Precisamos propor um novo projeto de luta na reconstrução da dignidade que é de todos nós. E isso não ocorrerá a partir de um projeto político de reconciliação com os partidos de centro e direita. Devemos utilizar a experiência petista, aquela que pôs a sociedade de frente ao espelho da história, para começar uma luta de base sem o apego aos penduricalhos ideológicos utilizados para legitimar o poder quando não há mais forma de legitimação, tal qual o PT realizou.Por fim, cabe que todos nós, conscientes que somos da necessidade de uma sociedade mais humana e justa, reconstruir uma sociedade que hoje está fragmentada como resultado da mera vontade política de partidos e, principalmente, da mídia, que enxergou nessa fragmentação (mais uma vez) uma forma de perpetuar a simplista narrativa dicotômica entre “nós” e “eles”. Precisamos de um projeto de país de longo prazo, que olhe para seu povo como prioridade e não como massa política de manipulação, necessária única e exclusivamente para assegurar que as mudanças (caso venham) ocorram para que as coisas continuem do jeito que estão.

(1) Luis Fernando e Arthur Aquino são internacionalistas formados pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).

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