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Diário Liberdade
Terça, 21 Fevereiro 2017 11:26 Última modificação em Terça, 21 Fevereiro 2017 12:06

Abrahan Bande Paz : Imagino uma Galiza construída a partir de iniciativas locais, sustentáveis, colaborativas, democráticas e justas”

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País: Galiza / Reportagens, Língua/Educaçom, Cultura/Música, Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: PGL

[Valentim Fagim] Abrahan nasceu no antigo concelho de Canedo, hoje Ourense, estudou Ciências Políticas e rumou primeiro para Dublim e depois para Barcelona onde há uma comunidade galega cada vez mais vibrante.

É o motor do Atlas das nações sem Estado na Europa que a Através publicará no verão. Julga que o pequeno comércio e das iniciativas locais e associativas seria uma estratégia para difundir o galego internacional.

Abrahan nasceu no antigo concelho de Canedo, na margem direita do Rio Minho, na cidade do Ourense. Qual era a língua das crianças do atual bairro de Ponte-Canedo?

A única língua transmitida era o castelhano, não se ouvia o galego entre as crianças. Aliás, a gente idosa do bairro era, e continua a ser, maioria de galego-falantes, mas quando falavam às crianças mudavam para o castelhano. Esta foi a minha realidade no aspeto linguístico. Infelizmente nada diferente a outras cidades ou vilas galegas.

Abrahan estudou Ciências Políticas e de Administração na Universidade de Compostela. Que te motivou a enveredar por essa formação?

Com dezoito anos não creio que seja uma boa idade para um moço escolher uma formação universitária, sobretudo para se orientar com uma possível saída profissional, com plenas garantias de realização pessoal. O que me levou a decidir esta formação foram algumas matérias concretas, junto com os seus conteúdos, além da curiosidade por aprofundar em diversos aspetos que me oferecia o curso universitário. Hoje em dia estou satisfeito da decisão.

Concluída o curso rumaste para Dublin. Que aprendeste lá?

Aprendi a conhecer outro país, outras línguas e desfrutei da cultura céltica do outro lado do Atlântico norte. Como galego simpatizei com o povo irlandês desde o primeiro dia, por me sentir muito próximo ao seu carácter e às suas reivindicações. Também me permitiu abrir caminho no plano laboral. Foi uma experiência genial e ainda conservo bons amigos e amigas. Tento voltar lá, no mínimo uma vez por ano. É um lugar certamente inspirador.

Agora moras na Catalunha, em Barcelona. Como se vê a Galiza de ali? Como se vê a nossa língua?

Sou da opinião de que a Catalunha não se poderia compreender sem ter em conta a Galiza, sobretudo por causa da imigração. Cada vez que galegas e galegos se encontram lá entra uma sensação de total proximidade, de entendermos bem um sentimento com um simples olhar. Falo da Galiza com gente que leva 40 anos imigrada em bairros como o Carmel ou Nou Barris e é incrível ver brilho nos seus olhos quando sentem ouvir da sua terra. Isto é algo único e emocionante.

Quanto à língua, existem casais de bairro que organizam eventos relacionados com a Galiza, associações que promovem a língua e ouve-se bastante galego na rua. Barcelona é um lugar idóneo para promover a língua galega. Há muitos locais gastronómicos e lojas que vendem produtos galegos mas não é suficiente, é o típico. Deveria de haver uma conjuntura em rede, irmos todas da mão. Isto tem de vir de gente consciencializada, que promova eventos em prol da língua e da cultura galega. Mesmo assim, devo dizer que se vê cada vez mais vontade de fazer eventos, palestras, concertos, além da simples promoção da gastronomia galega.

Para julho de 2017 está previsto que a Através Editora edite o Atlas das nações sem Estado na Europa e Abrahan tem a ver muito com esse projeto. Como surgiu? Que vão encontrar os leitores nas suas páginas?

Tudo começou pola minha teima de ir na procura de Atlas diferentes ou não convencionais. Foi então quando descobri a plataforma eurominority.org, dirigida polo autor bretão, Mikael Bodlore-Penlaez. Contactei com ele e expressei-lhe a minha vontade para colaborar no seu projeto. Deu-me a possibilidade de fazer um pequeno trabalho de tradução, num dos seus mapas. Certo é que o pedira em galego normativo e assim o elaborei. Após lhe explicar o sentido do galego internacional, perguntou-me se estava interessado em traduzir, adaptar e atualizar o seu trabalho “Atlas des nations sans état en Europe”. A minha resposta foi evidentemente positiva. Aí foi o princípio deste projeto. Tenho de agradecer ao autor a sua implicação e as facilidades que ofereceu em todo o momento, para este projeto ir avante.

O “Atlas das Nações sem Estado na Europa” é um trabalho que está a requerer muita profundidade, rigor e responsabilidade. Tivemos de reformularmos a focagem dos conteúdos, já que no prefácio do original, o autor divide os povos europeus em blocos linguísticos. Não gostávamos do encaixe da Galiza no bloco de línguas latinas e decidimos adotar, prévio consentimento do autor, uma perspetiva geográfica, na qual a Galiza aparecesse como povo Atlântico.

O Atlas disporá de uma primeira parte concetual, onde aprofunda numa terminologia básica; uma ficha de cada povo composta por cronologia, bilhete de identidade, toponímia e uma parte geográfica, histórica, linguística e política; outra de minorias nacionais e novas reivindicações; por último também se dedica uma pequena epígrafe à criação de novos estados na Europa.

Tal e como se pode ver é um trabalho ambicioso e muito amplo que deve estar logicamente atualizado e adaptado a uma ótica galega.

A equipa de trabalho está composta polo Fernando Corredoira e por mim mesmo. O Valentim Fagim também está a colaborar para conseguirmos uma tradução que ultrapasse a excelência. Proximamente também nos ajudará o Rubén Melide com as atualizações. Na verdade é uma sorte trabalhar com gente experiente, implicada e apaixonada.

Por onde julgas que deve caminhar o reintegracionismo e, em geral, o movimento para a difusão social do galego?

Acho que o êxito do reintegracionismo dependerá da visibilidade que receba nos próximos anos. Em favor está que se aprecia mais consciência, mesmo que a aceitação vai a passos pequenos. Existem cada vez mais espaços que rompem os tabus. É gostoso ir a lugares como o Pichel, a Ciranda ou à arca da Noe e tantas outras associações que trabalham com convicção e vontade por uma realidade que, infelizmente, não tem a repercussão que deveria. O reintegracionismo deve deixar de estar num segundo plano.

Para isto deve ser o turno do pequeno comércio e das iniciativas locais e associativas. Mobilizar e sensibilizar o mercado de proximidade e as produções locais seria uma porta de entrada, para fazer o galego internacional mais visível. A partir de aí se pode continuar a construir. Mediante a potenciação de espaços que promovam o comercio sustentável, estes mesmo espaços poderiam utilizar a grafia internacional, servindo para a sua normalização entre a população. Seria todo um avanço. Também facilitaria uma necessária transformação económica e social partindo duma mudança na maneira de conceber o excessivo consumismo atual. Mas para que isto tenha sentido tem de se ver na rua e existir consciência.

Em minha opinião, focar o galego numa ótica internacional permite abrir fronteiras para criar uma comunicação mundial em rede com a lusofonia, que rompa de uma vez com a descida constante de galego-falantes. É preciso aproveitar a riqueza da nossa língua, e tratar este problema a partir da inclusão das diferentes vertentes do galego, já que serviria de reforço positivo. Assim, é hora de assumir e estabelecer concretamente um movimento de galeguia internacional, para recuperarmos a língua. Espero que o Atlas ajude a seguir por este caminho.

Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associação?

AGAL é um motor do galego, mas não só de uma visão reintegracionista. É uma associação que leva muitos anos lutando em prol da língua e cultura galega. Um exemplo de resistência e implicação, que nunca decaiu da sua vontade de promover o país, no próprio país e além das suas fronteiras. Para mim um exemplo e o caminho a seguir.

Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2030?

Seguindo o fio do dito anteriormente, imagino uma Galiza construída a partir de iniciativas locais, sustentáveis, colaborativas, democráticas e justas. Uma vez conseguido isto, seria o turno de conseguirmos uma língua digna, respeitada, respeitosa e orgulhosa. Ora bem, a sociedade existente hoje em dia não está preparada para assumir estas mudanças. Vivemos num mundo acomodado, no que fazer cousas por vontade própria para o bem coletivo é pouco menos que inconcebível. Seja como for, sou consciente que tudo isto soa a utopia, mas ainda não cobram por sonhar. Há que continuar avante!

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