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Diário Liberdade
Sábado, 22 Julho 2017 18:38

Desconstruir as sanções de Trump contra o Irã

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/ Direitos nacionais e imperialismo, Batalha de ideias / Fonte: The Indian Punchline

[MK Bhadrakumar; Tradução do Coletivo Vila Vudu] Reza uma velha historieta, que Moisés surpreendeu-se muito quando viu o casal de gatos que metera na Arca desembarcar com um punhado de filhotes ao final daquela tumultuada jornada existencial. Vendo o ar de espanto no rosto do velho sábio, o gato adulto chutou: "Você pensou que estivéssemos brigando?" A historieta de certo modo captura os joguinhos barulhentos e implausíveis que Irã e EUA jogam um com o outro, rugindo alto e não raras vezes nos deixando preocupados.

O presidente Donald Trump está tendo dificuldades para separar suas políticas, das políticas de Barack Obama. O governo Trump já duas vezes confirmou ao Congresso que o Irã está cumprindo o acordo nuclear – acordo que ele jurou rasgar em pedaços. Mas novamente na 2ª-feira, com um olho no lobby israelense, Trump impôs sanções à parte, contra um punhado de personalidades e entidades iranianas –, de modo a parecer adequadamente 'durão'.

No fim de semana, Teerã demarcara uma linha vermelha que Washington, pela qual não haveria sanções contra o Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos, CGRI (que luta na vanguarda das operações do Irã contra o ISIS no Iraque e na Síria). O governo Trump compreendeu perfeitamente o que implicava a tal linha vermelha – a saber, que as coisas poderiam ficar repentinamente quentíssimas para norte-americanos em solo no teatro sírio-iraquiano. (Para os não iniciados: conselheiros militares norte-americanos e milícias apoiadas pelo CGRI colaboraram tacitamente para libertar Mosul.)

Teerã compreende que Trump é mestre no blefe. Leiam a Declaração do Ministério de Relações Exteriores do Irã. Claramente ninguém está perdendo o sono em Teerã. O programa de mísseis do Irã é indígena, não depende de nada e ninguém fora do Irã; e as sanções norte-americanas não assustam a Força Qud, grupo de elite do CGR comandando pelo carismático general Qassem Soleimani nem a fará desistir do 'eixo da Resistência' na Síria e no Líbano (e em Gaza.)

De fato, o Majlis [Parlamento iraniano] aprovou novo orçamento na 3ª-feira que aumenta as quotas alocadas para o programa de mísseis e para a Força Quds em $260 milhões cada uma.

O Oriente Médio assiste hoje a um longo ocaso da hegemonia dos EUA. E o Irã sente isso. Assim sendo, Teerã joga com astúcia as cartas que tem, numa mistura de desafio estratégico e possibilidades não ditas de abertura, sempre em busca de conversações significativas.

Leiam a transcrição (ing.) de uma fascinante entrevista, pela revista National Interest com o ministro de Relações Exteriores do Irã Mohammed Javed Zarif, que está em visita a New York. (Zarif já falou ao Conselho de Relações Exteriores e foi entrevistado por Fareed Zakariah da CNN e na PBS, dentre outras aparições.)

Fato é que Zarif virtualmente coreografou a política do Irã para Trump. É ler e entusiasmar-se:

  • "Os EUA demoraram mais para liberar a compra de aviões Airbus que para comprar os Boeings."
  • "No caso de grave violação, ou do que, nos termos do próprio acordo, é chamado "não desempenho significativo" [ing. significant nonperformance], o Irã tem outras opções acessíveis, inclusive se retirar do acordo."
  • "Temos de ser mais cuidadosos na sinalização, porque já vimos o que sinalizações erradas nas últimas semanas causaram na nossa região, especialmente depois da cúpula de Riad, quando causaram revide violento na região – não entre aliados dos EUA e o Irã, mas entre aliados dos EUA."
  • "Nesse ponto, nos contentamos com simplesmente implementar aquele acordo (nuclear) (...) Quisemos que aquele acordo fosse a base de partida, não o teto. Mas para que sirva como base firme, queremos ter certeza que as obrigações foram completamente e confiavelmente implementadas pelos dois lados. E se obtivermos isso, então temos uma abertura para novos progressos."
  • "Não vemos a situação em nossa região como batalha a ganhar ou perder (...) Acreditamos que a situação no mundo de hoje é de tal modo interconectada que não se pode ter vencedores e derrotados; ou vencemos juntos, ou perdemos juntos. Obviamente, se um governo ou um país define seus interesses em termos de exclusão de outros, nesse caso estará definindo o problema de modo que não pode levar a solução alguma."
  • "Tivemos uma política consistente de combater contra o extremismo e o terrorismo, fosse no Afeganistão, ao tempo dos Talibã, ou mesmo durante o tempo em que os EUA ocupavam o Iraque, contra elementos terroristas que estavam instigando o terror dentro do Iraque."
  • "Bem, tudo depende da abordagem que os EUA tentarão, que o atual governo tentará adotar diante do Irã. Terá de considerar o Irã como o único país da região onde as pessoas permanecem dez horas em fila, para votar. Os EUA terão de deixar de lado aqueles pressupostos enviesados, autoindulgentes, que alguns membros desse governo ainda repetem insistentemente."
  • "Temos compreensão muito sóbria da situação na região onde estamos inseridos, e esperamos que os EUA também consigam alcançar compreensão também sóbria."

O Irã está-se saindo muito bem. O gênio para dar utilização ótima à diplomacia, com custo x benefício também ótimo, tem sido a maior vantagem estratégica do Irã na política do Oriente Médio.

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