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Diário Liberdade
Sábado, 21 Outubro 2017 08:32 Última modificação em Terça, 24 Outubro 2017 19:47

O império EUA, a CIA e as ONG

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País: Estados Unidos / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: O Diário

[Ludwig Watzal] Elucidativa entrevista com um estudioso das ONG norte-americanas, nomeadamente as criadas durante a década de 80: “National Endowment for Democracy », “The Freedom House” ou as de Soros, as “Open Society Foundations”, “Instituto para a paz.” Nas palavras de um do seus criadores, tratava-se de «fazer o que a CIA faz, mas de forma privada». Toda a conspiração imperialista desde então ilustra como têm cumprido esse papel.

A CIA recrutou os Irmãos Muçulmanos para fazer uma guerra por procuração à União Soviética no Afeganistão, que levou à retirada dos Soviéticos da região do Hindu Kuch. Desde então, a CIA utilizou mercenários em outras guerras por procuração tais como na Chechénia, Azerbaijão e nos Balcãs. Para abrir caminho às guerras de agressão contra Iraque, Líbia, Síria e Iémen, os Estados-Unidos e seus Estados vassalos criaram violências sectárias que conduziram a guerras civis. Na actualidade, a CIA e os Irmãos Muçulmanos estão presentes sob a forma de Estado islâmico na Síria e no Iraque.

Ninguém ainda estudou esta tríade [CIA, Irmãos Muçulmanos, Estado islâmico] tão escrupulosamente como William Engdahl, analista de renome em geopolítica, consultor em gestão de riscos, autor e conferencista. Engdahl nasceu em Mineápolis no Minnesota e cresceu no Texas. Depois de obter um diploma em Ciências Politicas na Universidade de Princeton e estudos superiores em economia comparativa na Universidade de Estocolmo, trabalhou como economista e como jornalista de investigação nos Estados-Unidos e na Europa.

Foi nomeado Professor Convidado pela Universidade de Tecnologia Química de Pequim e apresentou conferências e seminários privados sobre diferentes aspectos de economia e da política pelo mundo inteiro, tendo sempre em vista a geopolítica e seus acontecimentos. Nos últimos 30 anos Engdahl tem vivido na Alemanha.
Escreveu numerosos livros de sucesso sobre o petróleo e a geopolítica : « Petróleo uma guerra de um século », « The Lost hegemon: Whom The Gods Would Destroy », “Full Spectrum Dominance », « Les Semences de la destruction : l’agenda caché de la manipulation génétique », sem esquecer « Target China », para se nomearem aqui apenas alguns. Os seus livros estão traduzidos em 14 línguas.
O seu livro mais recente, sobre o papel das ONG, faz o ponto sobre a sua participação nas “Mudanças de regime“ orquestradas pelos Estados-Unidos. Organizando e agitando importantes manifestações, de forma à facilitar os esforços de Império estado-unidense e da CIA visando substituir governos resilientes de tendência nacionalista por outros mais obedientes que instalarão localmente a agenda de Washington. Tudo isto desenrolando-se sob o pretexto da democracia à americana. A entrevista que segue foca-se no último livro em alemão de Engdahl: « Geheimakte NGOs [Os documentos secretos das ONG] ”. É conduzida pelo Doutor Ludwig Watzal, jornalista e editor qui vive em Bonn na Alemanha e dirige o Blogue bilingue: http://betweenthelines-ludwigwatzal.com/.

***

Pergunta de Ludwig Watzal: Penso que estamos de acordo sobre o facto de a CIA ser a pior das organizações terroristas. Depois da 2ª guerra mundial, praticamente nenhum golpe de estado ou sublevação organizada se produziu sem a ajuda da CIA.
Se compreendi bem o seu livro, no decurso dos 25 últimos anos a CIA recebeu numerosas vezes “pequenas ajudas” daquilo que é comummente chamado as ONG. Será que poderia dizer-nos algo mais sobre este assunto?

Resposta de William Engdahl: Durante a presidência de Ronald Reagan vieram a público lamentáveis escândalos relativos a sórdidas operações da CIA pelo mundo fora. Chile, Irão, Guatemala, o projecto top secret MK-Ultra, o movimento estudantil durante a guerra do Vietnam, para não referir senão alguns. De forma a deixar de se encontrar na ribalta, o Director da CIA, Bill Casey propôs a Reagan a criação de uma ONG “privada”. Ligeiramente à margem, ela pretendia-se privada mas na realidade estava ali para, como disse um dos seus criadores, o falecido Allen Weinstein numa última entrevista au Washington Post: « fazer o que a CIA faz, mas de forma privada ».
Foi a criação, em 1983, da ONG denominada: “National Endowment for Democracy [Dotação Nacional para a Democracia] ». Pouco tempo depois, dirigidas a partir de Washington, outras ONG surgiram, tais como “The Freedom House” ou as de Soros, as “Open Society Foundations”, “Instituto para a paz” e outras ainda. Os fundos eram frequentemente encaminhados pelo Departamento de Estado via USAID para ocultar a sua proveniência.
Todas as tentativas de mudança de regime por parte do Governo norte-americano desde essa época, tais como o Solidarnosc na Polonia, o golpe de estado russo de Ieltsin apoiado pela CIA, a “revolução laranja“ de 2004 na Ucrânia, os motins de 2008 no Tibete, as primaveras árabes de 2011 até hoje, foram organizadas por este grupo particular de ONG pregando a “democracia“. Não surpreende que países como a Rússia e a China ou ainda a Hungria façam o necessário para as banir enquanto ONG’s “indesejáveis“.

LW: Cita Allen Weinstein, co-autor do documento fundador da ONG National Endowment for Democracy (NED), dizendo: « quase tudo o que nós fazemos hoje fazia-o a CIA há 25 anos ». ONG tais como NED, CIPE, USAID, NDI sem falar das redes Soros, não são elas a quinta coluna da CIA?
William Engdahl : Como referi atrás, diria que a minha opinião é essa. Como sempre, a agenda dessas ONG corresponde em cada momento à que é enunciada pela política externa de Washington. Coincidência? Não penso que o seja.

LW: As suas críticas incidem essencialmente sobre algumas ONG norte-americanas, ou juntar-lhes-ia todas as outras organizações não-governamentais de maneira mais geral? Estas ONG não são todas elas orientadas por uma nobreza de espirito e de boas intenções, no sentido de difundir a democracia e a liberdade em todo o planeta?
William Engdahl : É aí que reside o que existe de demoníaco no conceito de Bill Casey. Esconder verdadeiras operações antidemocráticas e nauseabundas da CIA por detrás das ONG políticas e privadas agitando a bandeira dos “direitos do homem” foi muito eficaz para Washington e a sua agenda global de derrubamento de regimes não-cooperantes por todo o lado no planeta. Na realidade, a CIA militarizou os direitos do homem.
Estranhamente, regimes uteis a Washington tal como a Arabia saudita mantêm-se sem nunca serem incomodados por apelos à democracia. Os seus petrodólares financiam a agenda global do terrorismo de Washington…
Repare no recente caso da falsa ONG “democrática“, os “Capacetes Brancos“ na Síria, fazendo a sua propaganda em colaboração estreita com o Estado Islâmico, para justificar uma guerra dirigida pelos EUA contra o regime democraticamente eleito de Assad. Estes “Capacetes Brancos” recebem dinheiro das fundações de Soros, dos governos norte-americano e britânico e foram criadas por um antigo agente dos Serviços de Informações britânicos, James Le Mesurier. Foi numerosas vezes provado que os seus atrozes vídeos foram fabricados, com representação feita por actores. O seu dito vídeo sobre o gás Sarin mostrando capacetes brancos sem protecção, prodigalizando os primeiros socorros e tratando as supostas vítimas desse gás Sarin sem equipamentos de protecção individuais contra substâncias toxicas [HAZMAT] é anedótico, é uma falsificação, tal como foi amplamente demonstrado por diversos peritos em substâncias toxicas e gás Sarin.
As ONG políticas de Washington ou da Europa são em certos casos eficazes porque podem atrair um número significativo de pessoas inocentes e de boa vontade. Recebi recentemente uma carta pessoal muito tocante da parte de uma médica que tinha trabalhado durante 18 meses, com as melhores intenções, para Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Sudão do Sul, antes da sua independência apoiada pelos EUA. Estava muito agradecida, depois de ter lido o meu livro sobre as ONG, por conseguir enfim compreender todas as instruções, aparentemente absurdas, dadas pelos responsáveis americanos de MSF ao seu pessoal. Ela demitira-se devido ao esgotamento e dizia agora compreender porquê. Médicos honestos eram utilizados por Washington para a sua agenda secreta. O Sudão do Sul era o alvo porque a China recebia uma grande parte do seu petróleo da zona via Cartum.
Bem entendido, não são todas as ONG que fazem o trabalho da CIA. Concentro-me sobre aquelas que têm uma agenda politica escondida e que, como descrevo no meu livro, instrumentalizaram os “direitos do homem“ e a palavra “democracia“ para fins que nada têm a ver com eles.

LW: Em 1984, o especulador milionário Georges Soros implanta a Fundação Soros em Budapest. O seu primeiro objectivo foi a Polonia. O Papa João Paulo II e o Presidente dos EUA Ronald Reagan encontraram-se em 1982 no Vaticano para discutir a desestabilização do bloco Comunista. Houve uma participação da Fundação Soros nesse empreendimento?
WE : Em 1988 a Fundação Soros criou em Varsóvia a Fundação Stefan Batory, a fim de através dela formar activistas que acabaram por fazer tombar o regime comunista. Desempenharam um papel central na “ofensiva democrática” e, imediatamente após a queda do governo do General Czeslaw Kiszczak em Agosto de 1989, Soros chamou à Polonia o economista da Universidade de Harvard Jeffrey Sachs, especialista na “Terapia de Choque“, para fazer avançar a privatização das empresas nacionais. Para criar uma hiperinflação e proporcionar a venda em leilão dos activos do Estado polaco em benefício de investidores do Ocidente como os amigos de Soros, por alguns pennies ou, à época, alguns pfennigs.

LW: Os dois capítulos sobre a pilhagem da ex-URSS pela CIA, Soros, e o seu bando de Harvard em colaboração com o clã Ieltsin e veteranos do KGB são bastante chocantes. Poderia explicar-nos esta mão-baixa quase mafiosa?
WE : Devo remeter os leitores para o livro, porque o tratamento do tema foi sintetizado e é exaustivo. Brevemente, a CIA, sob a direcção do Presidente americano da época, Bush Sénior, conseguiu corromper pessoal de muito alto nível do KGB que recrutaram os seus “protegidos” no seio da organização juvenil Konsomol ou da organização da juventude comunista, tais como Boris Berezovsky e Mikhail Khodorkovsky, para que estes se tornassem os seus “oligarcas” preferidos, pilhando os activos do Estado por um punhado de rublos em lugar do seu real valor. Foi o tristemente célebre escândalo das privatizações por “vouchers” que avaliou a totalidade dos bens do Estado, incluindo petroleio e gás, máquinas-ferramentas, alta-tecnologia, a um pouco menos de 16 milhares de milhões de $. Desmantelaram literalmente a Rússia para seu proveito pessoal. E a CIA e a sua rede de bancos ocidentais, como o banco Riggs em Washington, permitiram-lhes fazer sair os capitais para fora da Rússia. Eu próprio fiquei chocado ao constatar estes pormenores. Era criminoso. Ieltsin era o seu joguete. Alguns diziam que desde que lhe fosse assegurado um aprovisionamento de vodka de qualidade, ele fazia tudo o que Soros e seus economistas de Harvard lhe pedissem.
Um pormenor interessante sobre o qual é necessário reflectir é este: o Presidente Bush Sénior, antigo Director da CIA, ordenou 3 operações de desestabilização simultâneas através de ONG no mesmo ano de 1989. As três foram: Rússia, China com a praça Tiananmen e a Jugoslávia. O livre explica tudo isso com grande detalhe.

LW: Depois de suceder a Boris Ieltsin como Presidente da Rússia, Vladimir Putin travou de imediato a pilhagem da Rússia. Pensa que poderia residir aí uma das razões porque a classe politica, em Washington, o odeia e diaboliza com tanta insistência, o qui é irracional?

WE : Putin provinha de uma facção nacionalista russa (oposta àquela a que chamávamos a facção “cosmopolita“ ou “internacionalista“) do KGB e do seu sucessor. Sabiam dever agir com discrição até que o seu controlo ficasse garantido em 2000, quando Ieltsin foi forçado ou a retirar-se ou a ser desmascarado, e foi obrigado a nomear Putin como Presidente interino.
Houve, desde bem antes de 1917, uma guerra não declarada contra um Estado-Nação estável na Rússia. O fundador de Statfor, Georges Friedman, um dos analistas americanos melhor informado em geopolítica, antigo consultor do Pentágono e da CIA entre outras, deu recentemente uma interview após o coup d’état da CIA na Ucrânia, que designou como “o mais flagrante coup d’état na história do EUA.” Este, se se recorda, em que Viktoria Nuland, Secretária de Estado adjunta, tinha ido a Kiev, tinha distribuído barras de cereais aos manifestantes na praça Maidan e telefonado ao Embaixador Americano em Kiev, para lhe exprimir o seu desprezo pela União Europeia.
Friedman observava aquilo que eu documentei em vários dos meus outros livros, como em « petróleo, uma guerra de um século », a saber que a politica externa dos EUA, pelo menos no século passado quando os Estados-Unidos emergiram em detrimento do Império britânico, a prioridade da politica externa americana foi a de impedir, a todo o custo, a reunião de interesses económicos e qualquer cooperação sobretudo entre a Alemanha e a Rússia. O mundo sofreu 2 guerras mundiais em consequência deste dogma geostratégico da politica externa dos EUA, um dogma recolhido dos Ingleses e do pai da geopolítica inglesa, Sir Halford Mackinder.
Washington odeia e diaboliza Putin pela boa razão de que ele agiu de forma deliberada para restabelecer a Rússia enquanto grande nação, o que é efectivamente o caso como posso confirmar após quase 25 anos de experiência pessoal. E como consequência da diabolização de Washington, a influência de Putin no mundo parece não cessar de crescer – em primeiro lugar com a China, depois com as nações da Eurásia, Africa, o Médio-Oriente, Asia, e mesmo com as Filipinas e a América latina. O mundo está mais do que farto dos EUA, da sua agenda guerreira, oculta ou não, sem fim e em toda a parte.

LW: O desmembramento da Jugoslávia foi uma catástrofe. Os Alemães, sob a Chancelaria de Gerhard Schroeder e do seu infame ministro dos negócios estrangeiros, Joschka Fisher, juntaram forças com Clinton para derrubar o Presidente sérvio Slobodan Milosevic. Nesta operação, que tinha tudo de um golpe de estado, havia ONG implicadas? E qual era a sua estratégia?
WE : Sim. Siga a carreira subsequente do sr. Fischer : de rufia nas manifestações de Frankfurt de 1968 até a ser coroado pelos EUA e sua imprensa de grande circulação como homem de Estado, aparentemente como recompensa pelo voto dos verdes a favor do bombardeamento da Jugoslávia em 1999. Depois do seu mandato, Fisher obteve um lugar de Professor honorário em Princeton, a minha Alma Mater. Mais tarde Georges Soros convidará o sr. Fisher para o seu novo LICI [1] “Conselho Europeu dos Negócios Estrangeiros [European Council on Foreign Relations – ECFR]”.
No que diz respeito ao derrubamento de Slobodan Milosevic, o Governo dos EUA e a sua clique de ONG, incluindo o NED e as fundações de Soros, organizaram, financiaram e formaram representantes de estudantes e outros para fomentar um golpe de estado de sucesso, sob o nome de Otpor! (Resistência !), com o omnipresente logo do punho erguido. Traduções sérvias dos escritos de Gene Sharp sobre a não-violência activa eram utilizados e os activistas chave treinados pelo associado de Sharp, o coronel Robert Helvey do exército americano, em locais secretos de forma a evitar a polícia. O Movimento Otpor! recebeu, segundo certas estimativas, até 30 milhões de dólares de organizações ligadas aos EUA como o National Endowment for Democracy (NED), o International Republican Institut (IRI), e a Agencia Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
A destruição da Jugoslávia fora planeada desde os anos 80 por Washington, primeiro por Bush Sr. E depois por Clinton. Sendo o objectivo o de criar uma guerra na Europa que iria justificar a presença contínua da NATO. Gastos que teria sido difícil explicar aos contribuintes americanos depois da queda da ex. URSS e aos Europeus que procuravam organizar uma defesa europeia autónoma fora da NATO. Para Washington e o influente complexo militar-industrial americano, uma tal Independência era Tabu! O objectivo seguinte iria ser estabelecer uma presença americana massiva no Kosovo designada Camp Bond Steel.

LW: Quando os Árabes desceram à rua em Túnis, no Cairo e em Trípoli, os media ocidentais e a classe politica ficaram em êxtase. Finalmente a democracia, a liberdade e os direitos do homem tinham chegado ao mundo árabe. Estas revoltas eram espontâneas ou será que eram orquestradas por forças exteriores?
WE : A totalidade das Primaveras Árabes foi planeada e financiada por Washington e pelas ONG financiadas pelos EUA. A Ministra dos Negócios estrangeiros [Secretária de Estado] à época, Hillary Clinton, era um personagem chave com o seu estranho assistente membro dos Irmãos Muçulmanos, Huma Abedin. A RAND Corporation, uma LICI do Pentágono, responsável pelo desenvolvimento da técnica do “enxameamento“ de massas como se de um enxame de abelhas se tratasse, utilizando Facebook e outras redes sociais para atiçar os protestos, desempenhou um papel central.
Os grupos de estudantes contestatários no Egipto eram treinados pelos EUA, utilizando de novo traduções de Gene Sharp, eram enviados à Europa para serem secretamente treinados pelos leaders de Otpor.
No caso da Líbia de Kadhafi, era considerada necessária e urgente uma mudança de regime, como foi agora revelado por DCLeaks e Wikileaks com as famosas mensagens electrónicas de Hillary Clinton ao seu conselheiro privado, Sidney Blumenthal. Kadhafi que, contrariamente à sua imagem diabolizada, tinha conseguido na Líbia os mais elevados níveis de vida de toda a Africa, estava na iminência de revelar ao mundo a criação de uma aliança de Bancos Centrais africanos e a criação de uma divisa, o Dinar-ouro, para a venda de petróleo, abandonando o dólar americano. Fazia isso de acordo com Ben Ali na Tunísia e Mubarak no Egipto. Tal como Hillary escreveu a Blumenthal, isso devia ser detido sem olhar a meios. Os meios para o deter foram os bombardeamentos ilegais da Líbia e o assassínio de Kadhafi e a transformação da Líbia num campo de ruinas.
O plano original do Departamento de Estado, da CIA e do Pentágono era, logo depois de Kadhafi, o imediato derrube de um outro renegado, Bachar el Assad na Síria. Esta parte não funcionou muito bem para os planificadores de Washington, e uma verdadeira tragédia humana, desnecessária, desenvolveu-se no decurso dos 6 últimos anos uma guerra dirigida essencialmente pelos EUA, que são por ela responsáveis.

LW: Outrora, os conquistadores traziam os missionários na sua comitiva. Hoje, as potências neocoloniais ocidentais vêm com uma pletora de ONG que ensinam às populações indígenas como é suposto funcionar a democracia ocidental. Pensa que as ONG servem os interesses dessas pessoas? Que existem ONG alemãs que veiculam quantidades enormes de lastro ideológico com, por exemplo, a integração da teoria do género? Que pensa disso?
WE : Penso que a sua analogia, dos missionários “cristãos“ do passado e dos “direitos do homem” ou da “democracia” defendidos pelas ONG de hoje, é efectivamente apropriada. Não tenho competência para comentar as actividades das diferentes ONG alemãs minha atenção principal está voltada para Washington, a potência hegemónica de agora e a fonte, infelizmente, de tanta destruição.

LW: No início e no final do seu livro refere-se à dupla linguagem de George Orwell que diz: «a guerra é a paz, a liberdade é a escravidão, a ignorância é a força ». Vivemos nós uma época em que o significado original das palavras muda de sentido? Será que o Império dos EUA e seus vassalos conduzem uma guerra em nome da democracia e destroem Estados-Nação com a mesma retorica democrática?
WE : É por isso que acho a citação de Orwell tão apropriada. O seu livro 1984 é, de diversas formas, uma descrição do que sucedeu às nossas democracias ocidentais, sobretudo na Grã-Bretanha e nos EUA.

LW: Se pudesse dar um conselho às ONG, o que é que lhes diria?

WE : Às pessoas honestas que poderiam ter-se deixado enredar na teia desta bonita retórica a propósito dos valores, dos direitos do homem etc., sugerir-lhes-ia que olhassem mais de perto quem sustenta financeiramente a sua ONG. No que diz respeito à NED ou às fundações de Soros, sugerir-lhes-ia que lhes fechassem definitivamente a porta prestando assim um grande serviço à humanidade, que seria o de permitir às nações e aos indivíduos decidir o seu próprio futuro sem a sua negativa intervenção. Diria, para parafrasear Cromwell no seu Parlamento inglês: « Vós, ONG dos direitos do homem, ide-vos! Para o benefício que era suposto ter-nos trazido, estais aqui há demasiado tempo. Parti, digo-vos, e que nada mais haja entre nós, em nome de Deus, parti! »

LW: Sr. Engdahl, agradeço-lhe esta entrevista.
WE : Obrigado pelo seu interesse e pelas suas excelentes perguntas.

[1] Laboratório de Ideias e Círculo de Influencia, tradução de think tank.

*Publicada pelo American Herald Tribune, 17 Julho 2017.
Fonte:https://ahtribune.com/in-depth/1789-william-engdahl-cia-ngos.html

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