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Diário Liberdade
Segunda, 06 Novembro 2017 16:18 Última modificação em Quinta, 09 Novembro 2017 20:24

"Despertar" sírio rumo a Albu Kamal

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País: Síria / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Elijah JM

[Elijah J. Magnier, Tradução do Coletivo Vila Vudu] Depois do fracasso do referendum dos curdos iraquianos e do projeto de dividir o Iraque, a questão a ser examinada é o papel que a Síria desempenha, mesmo com o grupo 'Estado Islâmico' [ing. ISIS] já em lenta decomposição, encurralado na região da fronteira entre Deir Al-Zour e Albu Kamal. Mas os EUA parecem decididos a abocanhar parte do território sírio, permitindo que os curdos sírios controlem o nordeste da Síria, especialmente as áreas ricas em petróleo e gás. Conseguirão os EUA com isso impor uma agenda política a Damasco, no fim da guerra?

Forças apoiadas pelos EUA avançaram sobre áreas do nordeste controladas pelo ISIS, com pouca ou praticamente nenhuma ação militar: o ISIS retirou-se de mais de 28 cidades e campos de petróleo e de gás a leste do Rio Eufrates, rendendo-se a forças EUA-curdas, depois de acordo que essas forças firmaram com o grupo terrorista. Esse acordo foi meio efetivo para impedir que ali se estabelecesse controle pelo exército sírio, e a situação que disso resulta pode vir a servir para chantagear Damasco.

Vale registrar que o acordo que houve, entre, por um lado EUA e forças curdas subordinadas aos EUA e, por outro lado, o ISIS foi alcançado com apoio de tribos árabes locais, os sírios Sahawa ("despertar"), próximos dos Sahwa iraquianos. As forças dos EUA, com experiência de negociar com tribos árabes locais, negociam para convencer aquelas tribos a se comunicarem com o ISIS para que lhes entregue a área de Albu Kamal antes de o Exército Árabe Sírio ou seus associados chegarem lá.

Os EUA estão tentando fechar o corredor da fronteira entre Síria e Iraque e controlar um segundo ponto de passagem (o primeiro é Tanaf) para bloquear a estrada à passagem de forças iranianas e do Hezbollah que vem do T2 e para que os norte-americanos cheguem primeiro à última fortaleza do ISIS.

De fato, o plano do Irã era chegar primeiro e rapidamente a Albu Kamal, não ter de lidar durante tanto tempo com a área em torno de Deir al-Zour, e solicitaram apoio aéreo aos russos no semideserto e ao longo da fronteira com o Iraque. Mas os russos viram a rápida avançada de Deir al-Zour aos poços de petróleo e gás como prioridade absoluta e plano efetivo para controlar primeiro as fontes de energia e avançaram para Albu Kamal/Al-Qaim.

Apesar disso, os EUA chegaram antes dos russos aos campos Omar de petróleo e gás (9 mil barris/dia) e de Coniko de gás (150 milhões de pés cúbicos), os quais o ISIS entregou aos curdos sem qualquer resistência. Os militares dos EUA têm considerável experiência de negociações com tribos árabes no Iraque. As mesmas tribos também estão em expansão no norte da Síria ao lado da província iraquiana de Anbar, e com jihadistas com os quais os EUA já fecharam acordos anteriores no Iraque e na Síria.

Com esses passos ousados, os EUA visam a impor a agenda deles ao presidente Bashar al-Assad da Síria, em negociações que se espera que se tornem mais agressivas no início do próximo ano quando chega ao fim a "guerra ao terror". 

Perdida a última fortaleza do ISIS em Albu Kamal, Al-Qaim e Deir-e-Zour, só as brasas da al-Qaeda (sob a denominação de Hay’atTahrir al-Sham) ainda brilham, por baixo das cinzas turcas. Tropas de Ankara entraram na cidade de Idlib no norte da Síria – depois de acordo com al-Qaeda –, sem qualquer confronto. É indício claro de que a Turquia ainda não deu por concluído o que veio fazer dentro da Síria nem o trabalho da al-Qaeda: Ankara espera para jogar a carta al-Qaeda, quando suas forças receberem ordem para se retirarem da Síria.

Quanto ao ISIS, o projeto de "estado" fracassou e, assim, a organização nada tem contra fazer acordos com os EUA (sob a cobertura de tribos árabes sunitas na região síria), contanto que lhe seja permitido conservar as forças remanescentes e mudar-se para outro lugar, de preferência para onde operam o Exército Árabe Sírio e aliados. Mas e Damasco? Cederá a essa chantagem?

Claro que a resposta é: não! Damasco não aceitará a chantagem. Assad deu combate e resistiu por mais de seis anos contra toda a comunidade internacional e países da região que gastaram bilhões de dólares no sonho de conseguir derrubá-lo do poder, mudar o regime e entregar a Síria a extremistas!

Hoje, Damasco controla a parte mais importante do petróleo e do gás sírios na Badiya (estepes da Síria) e de Tadmur a Deir Al-Zour, o que dá ao país produção suficiente para satisfazer o mercado interno, mas, claro, sem poder exportar como fazia antes da guerra. Significa que o Exército Árabe Sírio controla hoje produção equivalente a 3 bilhões de dólares ao ano, o que dá a Síria condições de não precisar importar como teve de importar durante os anos de guerra. Além disso, a Síria prepara-se para explorar campos de petróleo na costa síria, no Mediterrâneo. Tudo isso, como é esperado, permitirá que Damasco compense a perda atual e possa negociar com os curdos sírios de modo mais "relaxado", sem ter de ceder território.

A questão da presença norte-americana permanece sem solução, uma vez que, terminada a guerra contra o ISIS, os EUA tornaram-se força ocupante. A posição de Damasco portanto se fortaleceu e o governo já se dispõe a considerar a possibilidade de dar alguma administração local aos curdos, sob controle do governo central sírio, desde que a ameaça de separação – como aconteceu no Curdistão iraquiano – não apareça na mesa de negociações.

Há outro perigo que força os curdos a se aproximarem mais de Damasco que da Turquia, cujo presidente está determinado a anexar território sírio próximo de suas fronteiras, especialmente das controladas pelos curdos. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan anunciou suas intenções de movimentar-se na direção da Afrin curda, forçando os curdos a buscar refúgio na Rússia e em Damasco – e não nos braços dos EUA.

Isso e ainda mais deve emergir nos próximos meses, quando começa a fase mais difícil para Damasco: das negociações e da reconstrução de um país que precisa de mais de $500 bilhões.

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