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Diário Liberdade
Segunda, 30 Julho 2018 06:55 Última modificação em Sábado, 04 Agosto 2018 05:19

"(B)RICS+" conflitam com guerra econômica EUA vs Irã

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País: Irão / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Asia Times

[Pepe Escobar (de Johanesburgo), Tradução da Vila Vudu] NOTA DOS TRADUTORES: Nessa tradução escreveremos "(B)RICS" (o Brasil entre parênteses), para fazer lembrar que desde 2/12/2015 o Brasil vive sob golpe. Ninguém deve pressupor que, por estarem presentes à reunião dos (B)RICS, as autoridades brasileiras que lá apareçam tenham qualquer legítima representação democrática.

A principal conclusão a extrair da reunião de cúpula dos (B)RICS em Johannesburgo é que (B), Rússia, Índia, China e África do Sul – importantes players do Sul Global – condenam fortemente o unilateralismo e o protecionismo.

A Declaração de Johannesburg é perfeitamente clara: "Reconhecemos que o sistema de comércio multilateral enfrenta desafios sem precedentes. Compreendemos a importância de uma economia mundial aberta."Exame mais minucioso do discurso do presidente chinês Xi Jinping expõe detalhes agudos.

Xi enfatiza s crucial necessidade de aprofundar "nossas parcerias estratégicas". Implica ampliar o comércio multilateral, investimentos e conectividade econômica e financeira nos (B)RICS e Além (B)RICS.

E implica também alcançar o nível seguinte: "É importante continuar a perseguir o desenvolvimento movido a inovações e construir a Parceria (B)RICS na Nova Revolução Industrial (ing. BRICS Partnership on New Industrial Revolution (PartNIR) para fortalecer a coordenação de políticas macroeconômicas, e encontrar mais complementaridades em nossas estratégias de desenvolvimento e reforçar a competitividade dos países (B)RICS, economias de mercado emergentes e países em desenvolvimento."

Se "PartNIR" soa como nome de base para uma plataforma Sul Global geral, é porque é precisamente isso.

Em alusão nem tão velada à retirada unilateral do governo Trump do acordo nuclear para o Irã (JCPOA), Xi conclamou as partes a "obedecer à lei internacional e às normas básicas que governam as relações internacionais e a superar disputas mediante o diálogo, e as diferenças com consultas," acrescentando que os (B)RICS trabalham inevitavelmente para "um novo tipo de relações internacionais."

Essas relações de novo tipo com certeza não incluem uma superpotência impondo unilateralmente bloqueio de exportação de energia – que é ato de guerra econômica – a um mercado emergente e ator chave do Sul Global.

Xi dedica-se a exaltar uma "rede de parcerias mais próximas". E é onde entra o conceito de "(B)RICS+" [também "(B)RICS Plus"]. A China cunhou a expressão "(B)RICS Plus" no ano passado, na reunião de cúpula de Xiamen; refere-se a integração mais íntima entre os cinco países (B)RICS e outros mercados emergentes/nações em desenvolvimento.

Argentina, Turquia e Jamaica são convidados de honra em Johannesburg. Xi vê "(B)RICS+" interagindo com a ONU, "o G20 e outros enquadramentos", para ampliar a margem de manobra não só dos mercados emergentes mas de todo o Sul Global. 

Assim sendo, onde se enquadra o Irã nesse enquadramento?

Um absurdo jogo da franga [original "game of chicken"]

Imediatamente depois do Tuíto de Destruição em Massa do presidente Trump, a guerra retórica entre Washington e Teerã escalou à estratosfera, até níveis extremamente perigosos. 

Donald J. Trump

✔@realDonaldTrump


Ao presidente Rouhani do Irã: NUNCA, NUNCA AMEACE OS ESTADOS UNIDOS OU SOFRERÁ CONSEQUÊNCIAS QUE POUCOS EM TODA A HISTÓRIA JAMAIS SOFRERAM. JÁ NÃO SOMOS PAÍS QUE DEFENDERÁ AS PALAVRAS DE VOCÊS, ENLOUQUECIDAS DE VIOLÊNCIA E MORTE. TOME CUIDADO! 12:24 AM - Jul 23, 2018

O major-general Qassem Soleimani, comandante da Força Quds do Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos [ing. IRGC] – e verdadeira celebridade rock star no Irã – respondeu sibilante: "Você pode começar a guerra. Nós decidiremos quando ela acabará."

IRGC comanda poder econômico gigante no Irã e vive em total simbiose com o Supremo Líder Aiatolá Khamenei. Não é segredo para ninguém no Irã que o IRGC jamais confiou na estratégia do presidente Rouhani de investir no JCPOA como a via para melhorar a economia iraniana. Depois da retirada unilateral do governo Trump, o IRGC sente-se totalmente vingado.

A simples ameaça de um ataque dos EUA ao Irã já provocou alta nos preços do petróleo. A confiança dos EUA no petróleo do Oriente Médio está caindo, ao mesmo tempo em que o fracking – impulsionado por preços mais altos – está subindo. A ameaça de guerra aumenta com Teerã fazendo referência explícita à sua capacidade para cortar literalmente o fornecimento global de energia literalmente do dia para a noite.

Paralelamente, os houthis, forçando a Casa de Saud que bombardeia o Iêmen a cortar os embarques de petróleo pelo porto de Bab al-Mandeb, configuram o Estreito de Ormuz e incontáveis oleodutos facilmente bombardeáveis como ainda  mais cruciais para manter o fluxo de energia que faz funcionar o ocidente. Se algum dia acontecer ataque dos EUA ao Irã, analistas do Golfo Persa insistem que só Rússia, Nigéria e Venezuela têm meios para garantir petróleo e gás que substituam o que o ocidente perderá. Não é exatamente o que o governo Trump está procurando.

As "armas nucleares" iranianas sempre foram conversa fiada. Teerã não tem armas nucleares – nem está trabalhando para ter. Mesmo assim, a alta volatilidade da retórica de guerra introduziu a possibilidade apavorante de Teerã estar começando a achar que, sim, há real ameaça de um ataque nuclear pelos EUA, ou de ataque cujo objetivo seja destruir a infraestrutura do Irã. Se forem encurralados, não há dúvidas de que os comandantes do IRGC podem comprar armas atômicas no mercado negro e usá-las para defender o próprio país.

Essa é a mensagem "secreta" escondida na mensagem de Soleimani. Além do mais, a Rússia pode facilmente – e secretamente – fornecer ao Irã os mais moderníssimos, estado-da-arte, mísseis de defesa e os mais avançados mísseis de ataque.

Esse absurdo jogo da franga é absolutamente desnecessário para Washington, de um ponto de vista de estratégia para o petróleo – exceto pelo objetivo de quebrar um nodo chave da integração da Eurásia. Assumindo que o governo Trump esteja jogando xadrez, é imperativo prever 20 movimentos adiante, se "vencer" estiver considerado no projeto.

Se vem aí um bloqueio norte-americano ao petróleo do Irã, o Irã pode responder com bloqueio do Estreito de Ormuz, o que gerará vasto tumulto econômico para o ocidente. Se isso leva a depressão massiva, é pouco provável que o complexo industrial-militar-de segurança se culpe ele mesmo.

Não há dúvida de que Rússia e China – os dois atores chaves dos (B)RICS – cobrirão a retaguarda do Irã. Primeiro, há a participação da Rússia nas indústrias nuclear e aeroespacial do Irã; e há também a colaboração Rússia-Irã no processo de Astana para resolver a tragédia síria. Com a China, o Irã é um dos principais fornecedores de emergia do país e desempenha papel crucial na Iniciativa Cinturão e Estrada (ICE). Rússia e China têm presença gigante no mercado iraniano e ambições similares de superar o EUA-dólar e sanções norte-americanas contra terceiros.

BEAM me up,* Sul Global 

A verdadeira importância da cúpula dos (B)RICS em Johannesburgo é o modo como dá solidez a um plano de ação para o Sul Global, que terá o Irã como um dos seus nodos-chaves. O Irã, embora não seja nomeado na excelente análise de Yaroslav Lissovolik no Clube Valdai é nação quintessencial do grupamento "(B)RICS+".

Mais uma vez, "(B)RICS+" tem a ver com constituir uma "plataforma unificada de arranjos de integrações regionais", e vai muito além de negócios regionais, para alcançar outras nações em desenvolvimento com objetivos transcontinentais. A plataforma BEAMS integra União Africana (UA), o MERCOSUL, a União Econômica Eurasiana, a Organização de Cooperação de Xangai e a Iniciativa Baía de Bengala para Cooperação Técnica e Econômica Multissetorial (ing. BIMSTEC), organização internacional de sete nações do Sul da Ásia.

O Irã é futuro membro da Organização de Cooperação de Xangai e já assinou acordo com a União Econômica Eurasiana (UEE). E é também importante nodo da ICE e membro-chave, com Índia e Rússia, países (B)RICS, do Corredor de Transporte Internacional Norte-Sul [ing. INSTC], essencial para aprofundar a conectividade na Eurásia.

Lissovolik fala de BEAMS como sigla para designar "agregado de grupos regionais de integração, e de "(B)RICS+" como conceito mais amplo que incorpora outras formas de interação dos (B)RICS com economias em desenvolvimento."

O ministro de Relações Exteriores da China Wang Yi definiu "(B)RICS+" e BEAMS como "a mais extensiva plataforma para cooperação Sul-Sul, com impacto global". 

O Sul Global tem agora um mapa do caminho para a integração. Se algum dia acontecer de o Irã ser atacado, não será ataque só contra país do "(B)RICS+" e da plataforma BEAMS, mas contra todo o Sul Global.*******



* "Beam me up, Scotty" é frase construída a partir do seriado Star Trek. Quando o comandante Capitão Kirk precisa ser teletransportado de volta à Nave-mãe Enterprise, diz ao engenheiro que ligue o raio (ing. "beam") transportador. No texto acima, a expressão aparece em trocadilho intraduzível com BEAMS ("raios") – sigla de um agregado de arranjos regionais, que vem sendo constituído desde reuniões anteriores dos (B)RICS a partir de cada um dos membros-núcleo, como se lê acima [NTs, com informações de Wikipédia e "Raios de Sol Nascente: Ciclos de 5 Anos dos BRICS", Yaroslav Lissovolik, Valdai Club, "Dialogue for the Future", citado acima por Pepe Escobar e traduzido no Blog do Alok].

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