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Diário Liberdade
Terça, 04 Junho 2019 09:54 Última modificação em Sábado, 27 Julho 2019 22:55

Entrevista a Fathi AlFadl, secretário-geral do Partido Comunista Sudanês: “Há que arrancar o poder das mãos dos militares”

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País: Sudão / Institucional / Fonte: PCB

O Liberation news entrevistou Fathi AlFadl, Secretário de Informação e membro do Comitê Central do Partido Comunista Sudanês (PCS) sobre o processo revolucionário em curso no Sudão

Qual a atual situação no Sudão com relação às negociações entre as forças populares e os militares? É possível haver um governo de transição no futuro recente?

Até agora ambos os lados falharam em alcançar um acordo. As duas principais pautas de contenção giram em torno da presidência do conselho presidencial e de qual dos dois lados formará uma maioria.

Essa divergência é reflexo de duas narrativas no país e suas influências na oposição. A contradição central, depois da queda de al-Bashir, é entre duas abordagens: uma que enfatiza a importância de desmantelar e liquidar o velho regime e outra que está satisfeita com a deposição de al-Bashir e estão preparados para dividir o poder com os militares e os remanescentes do regime.

Essas duas narrativas têms ido e continuam existindo dentro das amplas forças de oposição. O PCS tem alertado contra tal posição. Essa posição é conhecida como “projeto de pouso suave”, um esforço calculado de mudança mirando no alargamento das margens de democracia com o objetivo de ampliar a base social do regime ao convidar à participação alguns setores da oposição, mas deixando o país amarrado às velhas políticas de dependência que mantêm o Sudão preso ao capital internacional.

A obstrução das negociações pelos militares e sua intransigência sobre transferir o poder para a Aliança para a Liberdade e a Mudança se baseiam no fato de que os generais sacrificaram seu líder para salvar seus pescoços.

O golpe foi organizado em coordenação entre a reação local e as potências regionais, principalmente Arábia Saudita e Egito. Para quem vê de fora, as negociações pareceram ser sobre posições e números no conselho presidencial, mas é muito mais profundo que isso. É sobre o futuro do país e qual caminho de desenvolvimento ele deve perseguir.

Agora, enquanto o impasse continua, ambos os lados concordaram em deixar um comitê técnico conjunto para tratar dos pontos controversos. A Aliança anunciou preparações para greves e desobediencia civil. A Aliança Profissional Sudanesa e o PCS estão alertando seus membros sobre o lançamento iminente de uma greve geral política e campanha para a desobediência civil como feraramenta para arrancar o poder dos militares e abrir o caminho para a revolução atingir seus objetivos.

comsudpcQuais forças você acredita estarem por trás dos ataques do dia 13 de maio às massas que protestavam em frente ao quartel-general do exército? Como isso afetou as mobilizações populares? Elas ainda estão acontecendo?

As forças de classe que estão por trás, apóiam e lideram o conselho militar são os remanescentes do regime, representados pela burocracia do estado, o alto escalão dos órgãos repressivos, o exército, a polícia e a segurança.

A nova burguesia parasitária criadas pelas práticas e políticas corruptas do regime representa uma força social dependente e representante do grande capital estrangeiro. Além disso, o exército daqueles empregados pelo regime em posições de liderança no partido dominante e nos órgãos auxiliares anexados a ele, por exemplo sindicatos governamentais, organizações de juventude, estudantes e mulheres, também compõem as forças repressivas.

As forças que planejaram os ataques e que se beneficiarão da dispersão dos manifestantes são o núcleo central do círculo interno do al-Bashir dentro do partido do governo. De qualquer forma, evidências circunstanciais apontam para culpados de dentro das Forças de Suporte Rápido [Rapid Support Forces e das milícias secretas dos grupos islâmicos.

Apesar da condenação pelos militares ninguém foi preso ou levado à justiça. Isso sugere que o ataque foi perpetrado com o apoio tácito de certos elementos dentre os militares.

As ações de protestos de massas, como sempre, continuam por meio dos “sentaços” (sit ins, manifestações em que as pessoas sentam no chão) diários e de ocupações na capital e em cidades maiores, em particular naquelas em frente ao quartel-general do exército.

Na quinta-feira 23 de maio, um enorme protesto de massas foi organizada em uma praça na frente do QG do exército em Khartoum. Aconteceu sob o slogan da segunda fase do levante: “Liberdade, paz, justiça e o governo civil é a escolha do povo”.

As principais demandas são: a rendição imediata do poder para a Aliança para a Liberdade e a Mudança e a prestação de contas de todos os que cometeram crimes contra o povo.

Depois de cerca de seis meses de protestos de rua contínuos, “sentaços”, greves e outras ações de massas, podemos dizer seguramente que os movimentos de protestos de massas não só mantiveram seu vigor, como aumentaram seu tamanho, ampla clareza de visão e determinação para alcançar seu objetivo: Todo poder aos representantes do povo.

Quais forças de classes estão em ação no campo revolucionário? Qual a relação entre o Partido Comunista Sudanês e a Associação Profissional Sudanesa, assim como as forças “Nidaa Sudan”?

O campo revolucionário é composto pelas forças radicalizadas da classe trabalhadora, o campesinato e a intelligentsia revolucionária. Também inclui as forças democráticas e socialistas das organizações de estudantes, jovens e mulheres.

Ao mesmo tempo o PCS está ativamente engajado em fortalecer sua cooperação combativa com os grupos radicais nas Forças de Concenso Nacional e na Aliança Profissional Sudanesa. O PCS dá uma importância considerável à construção, manutenção e promoção da ampla frente de todas as forças que concordam com a Carta da Aliança para a Liberdade e a Mudança.

O PCS está acolhendo instâncias radicalizadas do Movimento de Libertação do Sudão, liderado por Abd al-Wahid, e do Movimento de Liberação do Povo do Sudão – Norte, liderado por al-Hilu.

O PCS coopera com a Nidaa Sudan na aliança Nacional. Deve ser dito que essa organização é composta de vários grupos que representam interesses diferentes, o que às vezes podem não condizer com os conceitos do PCS.

O PCS mantém uma cooperação muito próxima da Aliança Profissional Sudanesa (APS). Na verdade vários do PCS trabalho na APS. Além disso, como partido ativo no campo dos movimentos sindicais, o PCS presta considerável atenção às atividades e trabalhos da APS.

Qual é a relação do movimento dos protestos com vários conflitos armados no Sudão? Como o Partido Comunista entende e caracteriza esses movimentos armados?

Uma das demandas mais básicas dos protestos e o fim da guerra em Darfur e o reconhecimento de direitos legítimos do povo de Darfur. Na verdade o povo do Sudão Ocidental, Darfur, Kordufan e o Nilo Azul foram e ainda estão na linha de frente das lutas contra o regime. Membros e apoiadores de todos os grupos armados formam uma parte integrante do movimento dos protestos de massas. A solução dos problemas das minorias nacionais, especialmente Darfur, serão devidamente discutida durante a conferência constitucional planejada no final do período de transição.

Que tipo de papel o PCS se vê desempenhando num possível governo de transição? Quais seriam algumas tarefas imediatas e desafios encarados num governo de transição?

O PCS deu contribuições ao programa adotado pela Aliança como as políticas alternativas para confrontar, desarmar e solucionar os problemas resultados de 30 anos de políticas bancarrotas adotadas pelos governos al-Bashir. O PCS também desempenhou um papel considerável em elaborar um plano emergencial para lidar com as tarefas mais urgentes durante o período de transição.

Como outros partidos e organizações, o PCS nomeou seus candidatos para o governo de transição que podem ou não serem membros dos PCS, mas quadros capazes e hábeis que podem carregar a responsabilidade de salvar e reconstruir o país.

O PCS estará representado no conselho legislativo que irá fiscalizar e supervisionar a performance do governo.

De forma alguma o PCS reivindica um papel de liderança [num potencial futuro governo] ou exige tratamento especial pela sua contribuição no levante. Como as outras forças o PCS cumpriu seu papel e assumiu suas responsabilidades. Hoje o PCS tem orgulho de notar que seu papel é reconhecido pelas massas, refletido pelo fluxo de pessoas jovens querendo se filiar ao partido.

O principal objetivo do PCS é continuar a luta até a vitória final; desmantelar e liquidar o regime ditatorial e assim criar as bases para o cumprimento das tarefas da revolução nacional democrática e pavimentando o caminho para a construção do socialismo no Sudão.

O que as forças progressistas do mundo podem fazer para apoiar a luta de vocês?

O PCS pede reiteradamente pela intensificação da solidariedade internacional. O PCStem orgulho de notar o crescimento da solidariedade com a luta do nosso povo. Basta mencionar o quanto a solidariedade internacional contribuiu para amarrar as mãos dos criminosos no passado, para conseguir a libertação de presos políticos e para forçar alguns governos, especialmente na UE, a mudar sua posição e apoiar nossa luta.

Hoje, mais do que nunca, a solidariedade e o apoio à luta do povo sudanês para conquistar seus direitos, para estabelecer seus órgãos de governo civis independentes e para se desenvolver pelo caminho do estado de direito, da proteção e promoção dos direitos e liberdades democráticas assim como da paz e da justiça social, assume importância especial.

Como declarado anteriormente, a segunda fase [da luta] é arrancar o poder das mãos dos militares. É aí que a revolução irá vencer ou perder. Então, a pressão em governos na Europa, EUA, Canadá, Reino Unido, UE, e na União Africana nessa direção irá ajudar.

Espalhar informações sobre as lutas diárias do povo sudanês entre os setores da população que podem influenciar a opinião pública é outra grande demanda.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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