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Diário Liberdade
Quarta, 10 Janeiro 2018 12:59

Crónica da morte de um antifascista

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Ramiro Vidal

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A notícia saltou à rede nas últimas horas da tarde de ontem; um jovem anti-fascista morreu assassinado.A notícia saltou à rede nas últimas horas da tarde de ontem; um jovem anti-fascista morreu assassinado.


Num princípio os méios de comunicação do regime davam a informação de maneira bastante difusa, pelos vistos houvera um altercado à saida de um bar, e um dos implicados na briga resultou apunhalado de maneira mortal. Com o passo das horas, méios alternativos irão confirmando que, com efeito, o detonante da briga que se saldou com um morto na tarde desse dia foi político, e a pessoa falecida é um tal Rodrigo Lanza, vinculado ao movimento squatter e de reconhecida ideologia libertária.

Para hoje convocarom-se concentrações em várias cidades do estado espanhol e da Europa e há previstas duas grandes manifestações; uma em Zaragoza, lugar onde aconteceu o lutuoso incidente, e uma outra em Barcelona, a cidade onde residia o rapaz assassinado. Sem dúvida, amanhã haverá um multitudinário funeral, onde estará toda a esquerda barcelonesa, incluída a presidenta da câmara da cidade condal, Ada Colau, que fará umas sentidas declarações com evidentes dificuldades para conter a emoção.

Talvez isto é o que, segundo alguns, deveria acontecer. Há uma esquerda maioritária que se sente cômoda indo a funerais e assomindo o papel de vitimada.

Fiquei impressionado com “Ciutat Morta”, o galardoado documentário que relata a fraudulenta operação policial que deu com três jovens imigrantes latino-americanos e uma jovem lesbiã de origem madrileno na prisão, pretensamente por estarem relacionados com uns incidentes nos que um guarda urbano de Barcelona sofreu lesões graves que o postraram numa cadeira de rodas de por vida. Quem não tenha visto este documentário dificilmente entender-há porquê não duvido da falsidade absoluta da versão oficial sobre a morte violenta de um falangista na capital de Aragão, facto que por enquanto deriva no regresso entre barrotes do Rodrigo Lanza. O documentário deita, dizia, luz sobre uma turbulenta montagem policial onde se acusa falsamente a um grupo de jovens de ter participado nuns incidentes originados num squat barcelonês, no contexto dos quais se produz a agressão com consequências fatais para esse agente da Guardia Urbana. Esta montagem tem um claro sesgo racista, xenófobo e homofóbico, além de que se desvelam práticas ilegais como a tortura e o falseamento de provas, aliás de negligências manifestas em matéria de segurança dos próprios agentes. Recomendo um visionado atento deste documentário.

Tendo visto o documentário, qualquer pessoa entender-há que há motivos mais do que sobrados para acreditar na versão de Rodrigo Lanza, esse jovem squattter libertário ao que certa esquerda gostava de ver morto, porque assim lhes seria mais útil, e não na versão oficial sobre os factos acontecidos em Zaragoza.

O principal problema do acontecido na cidade “baturra”, é que se rompe o guião e o elemento fascista não sai vitorioso do embate, e isso é um problema fundamentalmente ideológico. À esquerda permete-se-lhe ter mártires, mas nunca herois. A esquerda não ganha, a esquerda morre. Nos anos trinta do século passado morria fuzilada, hoje morre em “brigas de tribos urbanas”, ou simplesmente experimenta mortes orgânicas em forma de derrotas eleitorais, ou mortes sociais na marginalidade, celebrando os seus estranhos ritos ante a indiferença de uma parte da população e o ódio e o despreço de outra parte. O que não pode ser é que esse gajo duro que serviu no exército e que às vezes se arroga o direito de ser sheriff e impôr a sua lei entre quem considera inferiores, acabe executado por um piolhoso anti-fascista que ousou defender-se.

Sim, Rodrigo Lanza vai pagar o que fez, e o mais grave dos seus delitos não foi ter-lhe causado a morte a Víctor Laínez. Isto último é um mero incidente que, providencialmente precipita a revancha do aparelho do estado perante a enorme pancada que resultou ser a saida à luz de Ciutat Morta. É grave que um indivíduo da “extrema esquerda”, essa esquerda socialmente carimbada de violenta e delituosa por definição, desmonte aos corpos repressivos e os ponha ante o espelho da sua corrupção e das suas práticas criminosas. E o de Víctor Laínez, ainda que não tanto para o aparelho do estado, também é grave. Desde logo que o aparelho repressivo não vai perdoar a morte de um peão que cumpre, dentro do combate à insurgência, o seu papel, ainda que os principais damnificados por essa morte são em primeiro lugar essa extrema direita que se vê claramente tocada na sua impunidade ante o perigo de que cunda o exemplo do acontecido e isto se repita no tempo em diferentes lugares, e em segundo lugar, ainda não tão residualmente como caberia pensar, a esquerda “civilizada” e “pacifista” que não tolera que lhe recordem que ao fascismo há que vencê-lo, não dialogar nem negociar nada com ele.

Os plantejamentos pacifistas que relativizam, que incorrem na armadilha dialética de equiparar extremos, que fazem o batoteiro rejeitamento categórico da violência, incorrem numa responsabilidade criminosa que espero que algum dia paguem a um altíssimo preço. Aqueles que fazem da condição de vítima uma virtude e que criminalizam o combate são falsários e estão a dizer-lhe à militância de esquerda que deve resignar-se a estar chorando sempre mortes de companheir@s e camaradas e que a perfeição revolucionária se alcança com a morte sem resistência. E isso apenas serve para perpetuar a opressão.

Eu nego-me a chorar mais mortes e afirmo que Rodrigo Lanza é um heroi. Também afirmo que em caso de enfrentamento é o fascista sempre quem tem que acabar dentro de uma caixa.

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