A proposta do referendo fazia parte do programa de governo do Partido Conservador que não esperava conseguir a maioria que obteve nas eleições gerais e portanto não teve outro remédio senão organizar a votação.
Existe uma parte do partido conservador que está mais interessada em manter os privilégios tradicionalistas e localistas do que embarcar na visão macro-lucrativa da UE, sabendo que apesar da UE ser a agremiação dos poderes financeiros, a imposição de regras sobre segurança dos trabalhadores e jornadas de trabalho tem sido em favor dos trabalhadores e mais benéfica, comparada com a legislação do trabalho que existia no Reino Unido anteriormente.
Claro que para os trabalhadores, que não decidem as suas próprias regras, no presente sistema em que vivemos, tanto faz que essas regras venham da UE ou de Westminster. Elas serão sempre menores do que a verdadeira retribuíção das mais valias do trabalho e da produção, tal como na redistribuíção da riqueza criada.
O sistema resolve portanto criar um referendo que, depois de uma campanha urdida entre o partido conservador europeísta e o partido conservador nacionalista e a direita nacionalista, cria na cabeça dos eleitores a ídeia que serão eles, em função da sua votação no dia de hoje que decidirão as suas sortes: Ou vais ou ficas!
Mas será que para nós, os mais avisados, a coisa pode ser assim tão fácil, ou seja, será que quem está no poder e governa em função do poder do capital pode sem pestanejar colocar o poder de uma decisão deste tipo nas decisões dos eleitores, quando nunca o fizeram anteriormente e quando a percentagem de abstensões coloca o poder no limite da legitimidade representativa?
Vamos supor que o Brexit ganha e os votantes decidem sair da UE.
Na etapa seguinte, o referendo é levado ao parlamento e novamente votado para avalizar a sua capacidade legal.
Sai do parlamento na sua capacidade legal de...apenas como referencia de consulta ao governo, porque os referendos não têm por si próprios capacidade ou força legislativa no Reino Unido. São apenas aparelhos de aconselhamento ao governo, como foi o referendo de adesão á UE na década de 70.
Portanto o governo pode ou não acatar a decisão de transformar o referendo em poder executivo e iniciar o processo de saída da UE.
Mais ainda há mais.
No processo legislativo Inglês todas as acções tomadas em função de tratados Internacionais e ou de legislação naturalista terá de ser votada na Casa dos Lordes e como é sabido, na casa dos Lordes a maioria é trabalhista que de uma forma geral é contra a saída da UE.
Portanto, seguindo este processo, verificamos que a propaganda feita em função do referendo dando a idea que o povo decide a sua sorte, é apenas isso, propaganda.
Propaganda que os meios de comunicação, nas mão do tenebroso capital do mais desumano que existe, torcem e distorcem para que essa ideia de que o povo do reino Unido decide a sua sorte e que lhe foi dada a oportunidade de sair ou ficar na UE passe da fantasia, que realmente é, para uma realidade construída para manter as massas controladas.
O referendo no Reino Unido não vai decidir nada, as decisões já foram tomadas e as medidas que aí virão já foram á muito negociadas por Bruxelas. O resultado do referendo apenas irá influenciar a nível interno na liderança do partido conservador e é por isso que a fação mais conservadora e nacionalista participa no jogo do referendo, porque será mais fácil atingir o poder dentro do partido.
Nunca acreditastes que o povo alguma vez teria o poder para decidir o que os homens de cartola tanto batalharam para conseguir?
Espero que não!
* O texto foi escrito no dia de celebração da consulta, antes de conhecer os resultados.