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Diário Liberdade
Quarta, 23 Novembro 2016 12:10

Visão geral da luta de classes na América Latina

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James Petras

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A luta de classes desde abaixo tem tomado diferentes formas e direções, com maior ou menor intensidade, entre países e no interior dos países em diferentes períodos de tempo.


Em termos gerais os países com níveis relativamente altos de urbanização e industrialização, experimentam as maiores lutas urbanas – como é o caso de Argentina, Venezuela e Chile mas não de Brasil e México.

Dentro da luta de classes baseada nos centros urbanos, há uma maior distinção entre a luta baseada nas fábricas e nas greves operárias (Argentina) e as ações massivas de rua na forma de marchas (Venezuela e Chile).

As lutas urbanas contam com coalizões de diversas classes, com diferentes segmentos das classes populares. Na Argentina, por exemplo, aposentados, grupos de direitos humanos e ultimamente pequenos e médios empresários têm se juntado à luta ao redor de diversas questões que vão desde o aumento do desemprego, reduções na aposentadoria e no salário ao aumento astronômico da tarifa de serviços públicos.

Em contraste, o Chile experimenta a luta de massas incluindo a população indígena, estudantes universitários, técnicos e secundaristas e a comunidade popular baseada em movimentos com professores e trabalhadores da saúde sindicalizados.

As lutas de classes urbanas na Venezuela são em grande parte baseadas em mobilizações em apoio ao governo e seus programas de bem-estar social, e em oposição aos golpes patrocinados pelos EUA.

O Brasil é altamente urbanizado, mas em décadas recentes a luta de classes tem girado em torno dos movimentos de ocupação de terras liderados pelo movimento dos trabalhadores rurais sem terra (MST). Na medida em que as lutas urbanas jogam um papel que gira em torno dos “movimentos de sem teto” e protestos populares contra os serviços públicos. Os trabalhadores industriais urbanos que desempenharam um papel de liderança nos anos 1980 e 1990 na questão das “relações corporativas” com as elites políticas urbanas e o Partido dos Trabalhadores, de centro-esquerda.

As principais lutas de classes no Paraguai, Peru e México formam um grupo distinto. As lutas no Paraguai são predominantemente lideradas pelos movimentos camponeses ligados à demanda pela reforma agrária e apoiados na ação direta – ocupações de terras e marchas em capitais provinciais e estaduais. O compartilhamento de identidade de classe étnica (os camponeses falam guarani no Paraguai) fortalece a solidariedade de classe, assim como é o caso no Peru entre camponeses quéchua e aymara.

A luta de classes no Peru tem se centrado nas áreas provinciais e regionais. A peça central tem sido os camponeses e comunidades provinciais lutando contra a desapropriação por conglomerados de mineração estrangeiros. Nessa luta, os sindicatos de mineiros, na melhor das hipóteses, desempenham um papel auxiliar ou secundário. As lutas baseadas na comunidade são locais e multisetoriais, como a poluição das águas, do ar, da terra, dos alimentos pela exploração das mineradoras e enfraquecimento do comércio local – assim unificando um amplo espectro de variadas “classes intermediárias”. A classe trabalhadora urbana tem oferecido um apoio simbólico mas falta ainda voltar a ser a protagonista, como nos anos 1970 e 1980.

O México é o país com a maior variedade e volume de lutas de classes na América Latina, mas o país com o menor impacto popular na elite política. Um problema chave da luta de classes no México é sua dispersão – ela é regional, setorial e politicamente fragmentada. As autoridades mexicanas e seus esquadrões da morte do narcotráfico são notórios por assassinar baseadas na oposição: o caso mais evidente é o do assassinato de 43 estudantes rurais que frequentavam a faculdade para se tornarem professores. O alcance de grupos militantes inclui trabalhadores mineiros, professores em Oaxaca, camponeses em Guerrero, indígenas em Chiapas e a união nacional de trabalhadores de energia elétrica, a qual foi severamente reprimida.

Em termos de bem-estar social, a luta de classes tem avançado mais na Venezuela, amplamente sob a direção política de Hugo Chávez. Contudo, a precária dependência do estato em relação ao petróleo e a liderança burocrática impossibilitaram uma transformação social sustentável. As lutas mais avançadas por reforma agrária ocorrem no Brasil onde o MST foi capaz de ocupar, transformar e produzir, assentando mais de 300 mil famílias em propriedades agrícolas expropriadas em mais de duas décadas. Avanços sustentáveis pelo MST refletiram sua organização coesa e amplas alianças sociais na sociedade civil.

O avanço da luta de classes no Paraguai e no Peru tem ligado a terra, o meio ambiente e os movimentos indígenas em combinadas e combativas lutas, que aplicaram massiva pressão aos aumentos seguros dos lucros, do formidável desempenho do bloco que reúne os oligarcas locais, multinacionais estrangeiras e assessores militares dos EUA.

Os admiráveis sindicatos industriais, de serviços e de transporte da Argentina têm repetidamente demonstrado sua capacidade de ser bem sucedidos na convocação de greves gerais por salário e emprego. Já sua estrutura hierárquica e lideranças burocráticas, impedem mudanças estruturais. Só em tempos de crises sistêmicas – como em 2001-2003 – quando um movimento massivo de trabalhadores desempregados tomaram as ruas e derrubaram uma série de presidentes, houve uma séria luta que pediu mudanças estruturais.

Uma análise comparativa de estudos de caso de sete países revela um mosaico variado de diferenças e similaridades de luta de classes na América Latina. O andamento e intensidade da luta de classes tem se alterado: em tempos de crises ocorrem formidáveis avanços populares, em outros tempos quando a inversão econômica ocorre sob regimes eleitorais de centro-esquerda as classes dominantes têm liderado regimes de contrarreforma. Dado os fracassos estruturais das classes dominantes e o legado da luta de classes desde os de baixo, a realidade é que qualquer “retorno direitista” é tênue, insustentável e reversível.

Artigo publicado originalmente no site do autor em 17 de outubro de 2016.

Tradução do Diário Liberdade.

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