Não importa o dia do ano e se chove torrenciais, eles estão sempre lá desde o amanhecer até o anoitecer. Colocando o lombo. Seu corpo como uma ferramenta de trabalho e modo de sobrevivência. Não importa se pensam ou sentem, se perguntarão a hora (porque para o explorado não há relógio que pare) ou se um dente dói ou tem bolhas. Se acaba de morrer um parente ou de nascer um filho seu. Eles estão sempre lá. Colocando o lombo.
Mariela Castañón é uma jornalista comprometida com a infância e juventude do subúrbio, uma das poucas que na Guatemala sentem e fazem seu o compromisso de denunciar o abuso sistemático que sofrem. Dá voz a essas pessoas invisíveis para os direitos humanos mas perfeitamente visíveis para o abuso. Tive a oportunidade de realizar uma breve entrevista em torno do tema do Hogar Seguro [centro de “acolhimento” para jovens em situação vulnerável, nos arredores da Cidade da Guatemala, onde houve um incêndio em 8 de março de 2017 (NT)] e sua investigação nas denúncias de tortura e abuso sexual que sofreram as meninas e adolescentes internadas nesse lugar que estava a cargo do governo. Cabe mencionar que Mariela foi a primeira jornalista a denunciar, no diário La Hora, o que ali sucedia, se as entidades correspondentes a tivessem escutado a tempo o feminicídio de 41 meninas em 8 de março de 2017 jamais teria acontecido.
[Maurice Lemoine] A Assembleia Geral da ONU condenou o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pela administração Trump.
De uma fralda jogada no colo de uma pequena de menos de 14 anos, aparece a face de uma pequenina de cerca de 12 meses. É sua irmãzinha?, pergunto, e esquiva ao olhar ela corre e desaparece no mesmo instante para não admitir a vergonha de uma confissão.
Quando Otto Pérez Molina ganhou as eleições, pensei que a Guatemala havia chegado ao fundo do poço, uma sociedade que foi incapaz de julgá-lo pelos crimes contra a humanidade estava o levando à presidência, aquela foi uma punhalada nas costas dos familiares das vítimas e uma falta contra a Memória Histórica e contra a dignidade por si só.
Muita água correu desde o dia do incêndio em Hogar Seguro Virgen de la Asunción (8 de março), com ele também uma desinformação esmagadora, mídias que buscam captar a atenção dos leitores com as manchetes mais assustadoras e notas “amarelas” que menosprezam a vida e a dignidade das vítimas e suas famílias. Para nem se falar de ética e humanismo. “Estavam lá para delinquir”, mencionam alguns. Outro ressalta que “aquele era um retrato de famílias disfuncionais”, referindo-se aos pais de famílias que, ao saber do incêndio, chegaram como puderam ao refúgio. Artigos, reportagens, relatos detalhados a partir do ponto de vista classista, daquele que mais tem, do acomodado.
[Isabel Soto Mayedo] A cumplicidade de Israel com os governos militares durante o conflito armado interno na Guatemala, e em particular com o de Efraín Rios Montt (1982-1983), volta a ser notícia no mundo.
[Ilka Oliva Corado; Tradução de Raphael Sanz] Cresci entre lamaçais, poeira e lâminas oxidadas. Minha infância foi um poema ferido e incrivelmente belo. Cresci no coração de um esgoto marginalizado que tinha um idílio com a aldeia e o zacatal. Rodei entre barrancos e trepei árvores frutíferas, corri entre plantações de milho e hortaliças e também caminhei no longo bulevar de meu grande amor, em tantíssimos amanheceres.
[Ilka Oliva Corado, Tradução de Raphael Sanz] Quando vivia na Guatemala, escutei uma mãe de família dizer, referindo-se a uma jovem que trabalhava em um bar (em Guatemala se chamam “bares” os centros noturnos parecidos com as cantinas onde também se oferecem serviços sexuais, também podem ser chamados de “prostíbulos”) de garçonete e havia tido três filhos de distintos pais, ou seja, uma mãe solteira: “essa está aí porque é uma puta e gosta de pica”.
Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.
Contacto: diarioliberdade [arroba] gmail.com | Telf: (+34) 717714759