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Diário Liberdade
Domingo, 03 Dezembro 2017 13:13 Última modificação em Sexta, 08 Dezembro 2017 22:04

Frente à eucaliptização na Galiza e Portugal entidades acordam mais acção e coordenação internacionalista Destaque

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/ Consumo e meio natural / Fonte: Diário Liberdade

O Centro Social A Devesa, no município galego de Salceda de Caselas, recebeu neste dia 2 de dezembro as primeiras Jornadas Galego-Portuguesas frente à eucaliptização e os incêndios, organizadas por um conjunto de coletivos de ambos os países, nomeadamente Cousa de Raíces, ADEGA e a Associação Treze-Catorze, com a colaboração da Câmara Municipal de Salceda, a Associação Quercus e a Associação Matagal. O acto foi inaugurado por Marcos Besada, presidente da Câmara anfitrioa afetada em 25% do seu território pelos incêndios florestais de outubro.

A palestra do biólogo e membro do grupo ecologista Habitat, Cosme D. Romay, inaugurou a sessão da manhã. Explicou as características taxonómicas do género Eucalyptus e dos seus impactos sobre os território alheios ao seu país de origem, Austrália. Romay advertiu sobre o processo expansivo do eucalipto a nível mundial, que se prevê numa ocupação de 25 milhões de hectares para 2020 (em 2008 ocupava 19,1 M haver), sobretudo, nos pontos quentes (hotspots) de maior biodiversidade do planeta. Atualmente, a área cultivada de eucalipto é maior do que aquela que ocupa o género de forma natural. Sobre os impactos da espécie no território galego-português, referiu numerosos estudos que avalizam os efeitos negativos do Eucalyptus tanto no solo, como nos efluentes fluviais e reservas hídricas ou no espalhamento dos incêndios florestais,entre outros. Porém, lamentou que o discurso oficial não transfira esta informação à opinião pública e assuma o discurso da indústria do celulose.

Miguel Reis, membro da Associação Quercus, interviu para descrever o atual palco florestal em Portugal (26% da superfície florestal está ocupada com eucalipto e menos de 2% com carvalhais), que em 2014 se converteu no país da Europa com maior área de eucaliptos plantados. Em concreto, na Zona Norte de Portugal,45% das massas florestais são pinheiro, 28% são de eucalipto e 17% de carvalhos). Destacou que o eucalipto, que hoje ocupa 900.000 hectares em Portugal, já ganhou a batalha ao pinheiro bravo. O ecologista criticou que os governos só estejam a "olhar apenas o dinheiro" embora isso não seja "gerir o território", a grande matéria pendente dos governantes, apesar de que considera esperanzador que recentemente se modificasse a normativa florestal portuguesa para travar a expansão do eucalipto. Apelou à necessidade de reduzir o consumo de papel, de reforçar a capacidade fiscalizadora, de elaborar um registro florestal simplificado e proteger os rios e regatos deste tipo de plantações.

Experiências reais

Para o encontro foi convidado também o presidente da Associação de Moradores de São Simão, da câmara municipal de Figueiró dos Vinhos, uma das zonas mais atingidas pela vaga de fogos de julho que provocou mais de 60 mortes em Portugal. Anibal Quinta propôs "reagir" sem aguardar pela iniciativa política, intervindo nas comunidades locais mais próximas. Acrescentou que "se somos interventivos, seremos escutados pelos políticos".

Sob o título "De lume a lume, na busca da floresta encantada", Rubén Blanco explicou com imagens a transformação sofrida pelos montes de Corujo (Vigo), desde que foram recuperados pelos comuneiros e comuneiras em 1992. Passou de conter 6,6 hectares de frondosas a 52 hectares na atualidade e hoje em dia tem 15 postos de trabalho. O membro da associação Matagal fixo uma comparativa entre o comportamento do monocultivo de eucaliptos face à frondosas frente o lume. A vizinhança de Corujo comprovou de forma directa os benefícios da floresta autóctone: conserva mananciais, zonas húmidas e regime hídrico, aumenta o banco de sementes e zonas de refúgio e os corredores de fauna, os produtos ou frutos da floresta, favorece a paisagem com diferentes tonaldiades e consegue "ligar com a montanha" emocionalmente.

Cousa de raíces e ILP florestal

Na sessão de tarde, Adela Figueroa e Virxinia Rodríguez de ADEGA apresentaram a iniciativa Cousa de Raíces, em favor da floresta autóctone e conformada por umas 60 entidades, e favoreceu-se a discussão sobre as acções futuras desta rede e como melhorar o seu funcionamento. Neste senso, acordou-se estabelecer grupos de trabalho que abordem os diferentes aspectos da campanha: comunicativo, penal, formativo, educativo, etc., acordando a necessidade de estabelecer contacto directo com as comunidades de montes e os centros de ensino.

Fins Eirexas, secretário executivo de ADEGA, deu remate ao encontro com a apresentação dos contidos da nova Iniciativa Legislativa Popular (ILP) florestal promovida por Cousa de Raíces, que foi aceite a trâmite pelo Parlamento Galego e que, em poucos dias, se porá a andar por todo o país para a recolhida de suportes.

10 conclusões do encontro

As entidades organizadoras emitiram dez conclusões obtidas nestas primeiras jornadas galego-portuguesas:

  1. O debate sobre os impactos do eucalipto já está utrapassado, agora devemos passar à seguinte fase: a da acção.
  2. Não podemos aguardar a que os governos tomem a iniciativa face a eucaliptización e os lumes florestais; como cidadãos e cidadãs (sic.) devemos promover acções e medidas que procurem uma gestão sustentável dos nossos montes.
  3. O problema não é tanto a espécie (eucalipto), como a gestão que se faz dela (monocultivo, introdução maciça, não cumprimento normativa, etc).
  4. Deve-se incidir em que a floresta autóctone ajuda a reduzir e frear os lumes florestais, que se trata de uma questão de segurança, para além de ambiental, económica ou social.
  5. Não devemos permitir que se normalizem as situações catastróficas e as mortes provocadas pelos incêndios florestais.
  6. Devemos focar os esforços de sensibilização e concienciación sobre a mudança de modelo florestal nas comunidades de montes vicinais, nas criações e na classe política.
  7. A ILP florestal promovida por Cousa de Raíces pode e deve servir como ferramenta de sensibilização social sobre a problemática da eucaliptización e dos lumes florestais.
  8. Devemos exigir e procurar alternativas ao eucalipto, pondo em valor aquelas experiências reais que já estão a funcionar.
  9. É preciso cotinuar a pressionar as administrações para que dêem cumprimento à lei e para que se planifique o modelo florestal, não para 4 anos, senão para várias gerações de futuro. A nossa dinâmica de trabalho tem que ser diferente à dinâmica política.
  10. Como Cousa de Raíces necessitamos alargar a campanha a novos membros e colectivos, melhorar a nossa organização interna, em diversos grupos de trabalho, e trabalhar numa campanha conjunta Galiza-Portugal frente os lumes florestais e na defesa da floresta autóctone.
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