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Diário Liberdade
Quinta, 15 Setembro 2016 02:14 Última modificação em Domingo, 18 Setembro 2016 16:59

As eleições no Rio de Janeiro e a alternativa Freixo

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Roberto Bitencourt da Silva

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[Roberto Bitencourt da Silva] O cenário político e econômico do estado do Rio de Janeiro e da sua capital é bastante desolador. Anos a fio a "Cidade Maravilhosa" e o estado têm sido administrados pelo mesmo e amplo agrupamento político, envolvendo inúmeros partidos e tendo como pólo irradiador o PMDB.


As consequências têm sido devastadoras, especialmente, para o povo carioca: a depreciação constante dos serviços públicos; uma obscura trama de interesses empresariais com agentes políticos, que financiam a especulação imobiliária e a acumulação de capital pela parasitária burguesia dos setores de construção e transportes, que vivem às custas de vultosos recursos públicos.

O governo estadual provocando a sangria dos serviços públicos, por intermédio de descontroladas e injustificáveis desonerações fiscais para o grande capital nacional e internacional, assim como a prefeitura carioca transferindo recursos do erário para ONGs, fundações e empresas privadas, em vários setores e de diferentes formas. Há anos.

Ademais, a cidade do Rio, que em outros tempos orgulhava-se da sua geografia e da sua cultura - parcialmente mais acolhedoras, integradoras -, hoje defronta-se com uma reconfiguração espacial em que prevalece a segregação, a restrição à mobilidade de amplas faixas da população e, com efeito, do intercâmbio cultural entre os diferentes estratos e classes sociais.

Uma concepção de cidade norteada por um desinibido elitismo lacerdista impera nas escolhas urbanísticas da capital, há anos, particularmente na administração do prefeito Eduardo Paes (PMDB).

Nesse sentido, escrevo em defesa do voto em Marcelo Freixo (PSOL). São cerca de dez candidatos para a prefeitura carioca, mas apenas o deputado estadual Freixo possui uma trajetória política que lhe confere expressiva legitimidade para opor-se ao lastimável estado de coisas que predomina no Rio.

Cumpre observar que não acho o PSOL a última bolacha do pacote. As suas raízes são oriundas do PT, de modo que, como todas as demais siglas que nasceram desse mesmo berço, tem uma certa veia lacerdista travestida de vermelho, que me incomoda e sempre cobra o seu preço lá na frente.

Por essa acepção peculiar de lacerdismo, o lance é o seguinte: apoia-se quase exclusivamente no tema da "corrupção administrativa", na ênfase dada aos costumes políticos, cuja consequência é a recorrente fulanização da vida política, deixando de atender, em boa medida, a algo que se possa chamar de programa, menos ainda de corte nacionalista e anti-imperialista, que é o meu barato, o que realmente me interessa quando penso em eleição e política, em geral.

Mas, vamos direto ao ponto: estamos mergulhados em uma lama desgracenta no Rio de Janeiro, contando anos a fio apenas com o PSOL, Marcelo Freixo um tempão à frente, para defender os interesses dos trabalhadores, dos moradores do subúrbio e das favelas e a preservação dos serviços públicos.

O resto é a velha política chaguista do nefasto entrecruzamento dos interesses empresariais com o clientelismo na máquina pública, seja no original - o PMDB -, seja na pemedebização da maioria esmagadora dos partidos no estado, como PT, PDT, PC do B. Todos nos últimos anos aliados aos governos estadual e municipal.

Ademais, alguns candidatos saídos do agrupamento pemedebista procuram posicionar-se como opções em siglas notoriamente de direita, criticando as gestões capitaneadas pelo PMDB, mesmo tendo ocupado postos em secretarias na capital ou no estado.

O risco maior: há bastante tempo ocorre uma progressiva ascensão eleitoral do senador Marcelo Crivella (PRB), cujos vínculos com a Igreja Universal e, por tabela, com a Rede Record de Televisão são preocupantes, no que guardam de potencial e exacerbado poder - midiático e religioso - concentrados em sua candidatura. Dessa vez, Crivella tem chances reais de vitória para o Poder Executivo.

Levando tudo isso em consideração, causa-me espanto ver, especialmente, entre frações das hostes progressistas cariocas, certo "beicinho" besta com o voto em Freixo. A motivação fundamental é o enclausuramento no esquema de percepção político que orientou o PT e o PC do B, durante anos na esfera federal.

Um esquema que desmoronou (parece difícil o reconhecimento...) e sequer teve condições de preservar credibilidade diante de parcelas expressivas das classes populares e trabalhadoras no Rio de Janeiro.

O PT e o PC do B estiveram agarrados, até ontem, a cargos no estado e na prefeitura, dando assentimento a medidas de remoção de moradias populares, transferências cavalares de recursos orçamentários para encher os cofres de grandes empresas etc. Com isso, reforçaram o senso comum, não tão distante da realidade, de que "político é tudo igual".

Encontramo-nos em um terreno sobremaneira inóspito e o PSOL - com todas as suas limitações e como diria o velho e saudoso Leonel Brizola - é o cavalo encilhado que está passando na frente dos cariocas, principalmente das frações progressistas e de esquerda.

É bom ficarmos atentos e aproveitarmos a ocasião para darmos início ao afastamento do PMDB do controle da nossa cidade, assim como evitar a ameaça da mescla da política com a religião.

Roberto Bitencourt da Silva - historiador e cientista político.

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