Publicidade

Diário Liberdade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Quinta, 04 Mai 2017 21:18

25 de Abril e unidades balofas

Avalie este item
(0 votos)
País: Portugal / Batalha de ideias / Fonte: Jornal Mudar de Vida

[António Louçã] “É preciso mudar alguma coisa para tudo continuar na mesma” era um lema fundamental do velho reformismo. Havia também quem o traduzisse popularmente numa outra fórmula: “Vamos dar-lhe [ao proletariado] os anéis, para conservarmos os dedos”.

Hoje, tudo isto mudou. Quando ouvimos um governo social-democrata falar em “reformas”, devemos traduzir o calão críptico para a linguagem mais chã que falamos todos os dias: esse governo está, na realidade, a falar em contra-reformas.

O “reformismo” dos nossos tempos é um frenesi de invenções neo-liberais como o restabelecimento das jornadas de 10, 12 e mais horas diárias, o aumento da idade da reforma, o aumento de propinas e taxas moderadoras, o pagamento de cada vez mais TSU dos patrões pelos trabalhadores e outras “novidades” que no limite deveriam levar-nos de volta ao tempo da escravatura.

A cassette neo-liberal martela todos os dias a opinião pública com o famoso slogan TINA: There Is No Alternative, não há alternativa. E, como é suposto não haver alternativa, todo o debate político se esvazia e todas as formas democráticas se tornam simples acessório cosmético para caucionar decisões já tomadas. Quando a democracia é abolida, como no caso da Turquia, não faz falta nenhuma (quem daria pela falta de algo que já foi deixando de existir?), e Erdogan é felicitado publicamente pelo líder do “mundo livre”, Donald Trump, por se ter desembaraçado desse estropício.

Quando falam em reformas, os eurocratas neoliberais do jaez de Dijsselbloem ou os seus sátrapas ibéricos referem-se a medidas para proporcionar ao capitalismo condições mais lucrativas — antítese absoluta das reformas sociais da velha social-democracia. Eles tornaram-se incapazes de mudar seja o que for para preservar o essencial e não lhes passa pela cabeça sacrificarem algum anel a pensarem nos dedos. A ganância é mãe da cegueira.

Depois, a realidade vinga-se cruelmente da cegueira. Subitamente, os nababos de Bruxelas descobrem que já quase ninguém os quer. Na Grécia, pulverizou-se o PASOK europeísta e corrupto, milhões votaram à esquerda (depois traídos pelo Syriza) e em qualquer momento milhões poderão virar à direita, para a “Aurora dourada”. Na Hungria, o Governo de Órban todos os dias humilha a União Europeia, seguro da sua impunidade. Na Áustria, a extrema-direita perdeu por uma unha negra a eleição presidencial. Na Holanda, Geert Wilders não chegou ao poder, mas andou perto e pulverizou o partido (“trabalhista”!) de Dijsselbloem. Em Inglaterra, Nigel Farrage não é preciso no poder, porque Theresa May trata de aplicar o seu programa racista e xenófobo. E os exemplos poderiam multiplicar-se ad infinitum.

Despertados em sobressalto pelas sirenes do fascismo, os nababos põem-se então a clamar “unidade, unidade”. Em França, o espantalho de Marine Le Pen serve-lhes para pedirem uma grande fraternidade republicana a votar por Macron, mas também lhes teria servido para pedirem a eleição de Fillon, gatuno e nepotista, drástico apertador dos cintos alheios. A receita é “mais do mesmo” – uma receita infalível para continuar a amamentar o populismo, a xenofobia e o fascismo.

Em Portugal, comemoramos no 25 de Abril a ruptura revolucionária. Mas não devemos comemorar a unidade balofa em torno desta democracia galinácea, que choca na sua capoeira os ovos da serpente fascista. As lutas de massas que podem salvar os últimos restos de democracia real precisam de clareza e divisão de águas.

Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Doaçom de valor livre:

Microdoaçom de 3 euro:

Adicionar comentário

Diário Liberdade defende a discussom política livre, aberta e fraterna entre as pessoas e as correntes que fam parte da esquerda revolucionária. Porém, nestas páginas nom tenhem cabimento o ataque às entidades ou às pessoas nem o insulto como alegados argumentos. Os comentários serám geridos e, no seu caso, eliminados, consoante esses critérios.
Aviso sobre Dados Pessoais: De conformidade com o estabelecido na Lei Orgánica 15/1999 de Proteçom de Dados de Caráter Pessoal, enviando o teu email estás conforme com a inclusom dos teus dados num arquivo da titularidade da AC Diário Liberdade. O fim desse arquivo é possibilitar a adequada gestom dos comentários. Possues os direitos de acesso, cancelamento, retificaçom e oposiçom desses dados, e podes exercé-los escrevendo para diarioliberdade@gmail.com, indicando no assunto do email "LOPD - Comentários".

Código de segurança
Atualizar

Publicidade
Publicidade

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: diarioliberdade [arroba] gmail.com | Telf: (+34) 717714759

O Diário Liberdade utiliza cookies para o melhor funcionamento do portal.

O uso deste site implica a aceitaçom do uso das ditas cookies. Podes obter mais informaçom aqui

Aceitar