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Sábado, 07 Abril 2018 18:40 Última modificação em Sexta, 04 Mai 2018 22:04

Os interesses dos EUA por trás da prisão de Lula

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País: Brasil / Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: Sputnik Mundo

[Raúl Zibechi, Tradução do Diário Liberdade] A votação dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), na noite de quarta-feira (4) [e a prisão decretada, com a consequente consumação neste sábado (7), NT], supõe o fim da carreira política de Luiz Inácio Lula da Silva, tal como desejavam os militares, os grandes empresários, o governo dos EUA e um setor importante da sociedade brasileira.

A ofensiva permanente da direita durante os últimos cinco anos a permitiu realizar seu sonho mais desejado: tirar Lula das eleições presidenciais de outubro, para as quais era o favorito com 35% de apoio popular, muito à frente dos demais candidatos.

O STF votou negativamente o habeas corpus apresentado por Lula, que lhe permitiria esperar o resultado do julgamento por enriquecimento ilícito que foi confirmado em segunda instância. O tribunal se apegou à jurisprudência que diz que todo processado cuja pena é confirmada em segunda instância estará em prisão. De fato, Lula foi condenado a mais de 12 anos por um tribunal federal em janeiro.

Parece necessário repassar as razões que levaram cada um desses setores a apoiar a condenação de Lula, para além de sua suposta culpabilidade. Muitos políticos também deveriam estar nos tribunais por crimes ainda mais graves, como o atual presidente Michel Temer, em uma clara demonstração de duplo padrão da justiça, as instituições e a própria sociedade brasileira.

Em primeiro lugar, para os EUA os governos de Lula não foram especialmente problemáticos, pelo menos se nos atentarmos às declarações de ambas as partes. Salvo em um ponto: o projeto de autonomia em defesa, traduzido na construção de um submarino nuclear, além da capacidade de fabricar caças de quinta geração e a potencialização da base de satélites de Alcântara, próxima à linha do Equador.

“Por acaso”, desde que Dilma Rousseff foi derrubada do governo em agosto de 2016, os três projetos enfrentam sérias dificuldades, ainda que as autoridades se empenhem em negá-lo. A terceira fabricante mundial de aviões comerciais, a Embraer, que assinou um acordo com a sueca Saab para os caças brasileiros, está em processo de fusão com a estadunidense Boeing, o que pode frustrar o desenvolvimento que daria autonomia à força aérea.

Sobre o submarino nuclear, resta insistir em que está a cargo da construtora Odebrecht em acordo com a francesa DCNS, que está sendo seriamente investigada pela justiça, e que pode desbaratar todo o programa estratégico. Não pode ser por acaso que só a Odebrecht esteja no olho da justiça quando todas as empresas de construção operam do mesmo modo.

Os EUA estão próximos de chegar a um acordo com o governo Temer para operar a base de Alcântara, que por sua localização geográfica permite economizar 30% em combustível. Este é, junto ao submarino nuclear, um dos pontos mais sensíveis para o Pentágono.

A segunda questão são os grandes empresários, que haviam mantido uma atitude favorável aos governos do PT, pelo menos até 2012. No entanto, o fortalecimento do movimento sindical e a irrupção das camadas mais pobres dos trabalhadores no movimento grevista de 2013, que bateu todos os recordes históricos em quantidade de greves, os convenceram da necessidade de irromper o curso de empoderamento do movimento operário.

Neste sentido, vale recordar que a federação industrial de São Paulo (FIESP), a mais potente do país e uma das mais poderosas do mundo, voltou a jogar o mesmo papel que teve em 1964 quando foi a principal artífice do golpe de Estado militar que derrubou João Goulart.

A terceira incógnita são as forças armadas. Sob os governos de Lula (2003-2010), foram um dos setores mais privilegiados. Programou-se um rearmamento importante, como se havia produzido somente sob a ditadura militar (1964-1985). Se fortaleceu o complexo industrial-militar com sede na cidade paulista de São José dos Campos, com acordos com empresas europeias que abriram novos negócios às companhias brasileiras envolvidas na defesa.

Mas, sobretudo, se definiu uma Estratégia Nacional de Defesa que foi acordada com os altos comandos, o governo e os empresários, que define novos e mais ambiciosos projetos para as Forças Armadas.

Dois deles estabelecem a criação de uma segunda base naval na foz do Amazonas, que se somaria à atual localizada no Rio de Janeiro. Em paralelo, o fortalecimento da vigilância das jazidas off shore na plataforma marítima implica a proteção de uma poderosa frota de submarinos convencionais e nucleares.

As razões que levaram à virada dos militares têm dois pontos. O primeiro é a política sutil mas persistente dos EUA, que nunca viram com bons olhos a construção do submarino nuclear nem a autonomia satelital, projetos que minaram persistentemente por debaixo do pano. Embora um setor dos militares brasileiros tenha forte inclinação nacionalista, existe outro setor muito dependente da lógica estadunidense que coloca a Venezuela, Rússia e Irã como os novos demônios que jogam o mesmo papel que o comunismo, sob a doutrina de segurança nacional que levou aos golpes de Estado das décadas de 1960 e 1970.

O segundo é o crescente papel da direita civil nos quarteis. Muitos altos comandos rechaçam qualquer menção aos crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura. A ex-presidenta Rousseff foi torturada por militares, atitude que é celebrada por vários membros dos altos escalões que nunca aceitaram a menor crítica à repressão da ditadura.

Por último, as classes médias e média-altas têm militado ferventemente contra Lula e os quatro governos do PT. Assim como não houve uma ruptura com a ditadura, no Brasil tampouco houve uma descolonização social e cultural que democratizasse a sociedade e as relações entre brancos e negros (que são 54% dos brasileiros). Esses lastros provocaram a atual polarização social e política, em resposta ao ascenso dos mais pobres ao patamar de classe média. Mas essas heranças estão, também, na base da crescente descomposição de um país que se projetava como potência global.

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