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Diário Liberdade
Quinta, 15 Setembro 2016 12:27 Última modificação em Domingo, 18 Setembro 2016 01:05

A afronta de Peña Nieto ao México e toda América Latina

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Ilka Oliva Corado

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[Tradução de Raphael Sanz] Quando o candidato à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, pelo Partido Republicano, se referiu ao México com insultos, o primeiro em alçar a voz foi o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro: “Eu, como presidente da Venezuela de Bolívar e Chávez lanço minha voz em defesa do povo mexicano, ofendido por esta peruca ambulante. Que indignação. Quem se mete com o México, se mete com a Venezuela. Repudio totalmente as palavras deste bandido e ladrão”.

Em nenhum momento tal frase foi dita por Peña Nieto, nem por nenhum dos presidentes do triângulo norte da América Central. E isso que era a eles a quem concernia, mas não; quem repudiou foi Maduro, direto do sul do continente. Nenhum deles tampouco jamais se pronunciou quando Obama assinou a Ação Executiva contra a Venezuela, ou quando Clinton e Biden pediram de emergência uma invasão militar estadunidense na Venezuela. Digo, pois, para sublinhar a diferença entre o sangue vermelho fervente do líquido ralo que bebem os automóveis.
Quando Trump disse “mexicanos”, se referiu a toda América Latina. O insulto e as calúnias foram para todos os latinos que vivem e trabalham neste país, com ou sem documentos. Por essa razão Maduro, que entende perfeitamente o conceito de Pátria Grande, de irmandade e solidariedade se pronunciou imediatamente. O mesmo não fez a República Dominicana que tem cheia a cidade de Nova Iorque de dominicanos indocumentados, nem a Guatemala, nem El Salvador e muito menos Honduras que são como México: a mão de obra mais barata e mais explorada que existe nos EUA. Também não o fez a Colômbia que tem Miami cheia de colombianos. Mas o fez Maduro, em nome da dignidade do povo mexicano e de toda América Latina. Será por que Maduro e os poucos governos progressistas não foram colocados no posto pelas embaixadas dos Estados Unidos na região?
Nos surpreende que Peña Nieto se manteve à margem e não por desentendido, mas por covarde e afim. Tampouco surpreende que na quarta-feira, 31 de agosto de 2016 enquanto 61 corruptos votavam a destituição de Dilma Rousseff como presidenta do Brasil, Peña Nieto recebia Trump em Los Pinos – e não só o recebeu como se mostrou submisso e apático diante de um personagem catastrófico como é o candidato republicano.
Não tão distinto a Obama que com sua dupla moral e com oratória autoral, se vai da Casa Branca com três Golpes de Estado na América Latina, a militarização do México e do triângulo norte da América Central e as mãos manchadas de sangue com milhares de migrantes assassinados, torturados e desaparecidos, além de milhares de migrantes deportados.
Peña Nieto não devia recebe-lo e muitos menos o convite poderia ser feito oficialmente pelo governo do México. Essa ação não humilha o povo mexicano, como também mostra com clareza o apequenamento de um personagem que trabalha obediente às ordens da cúpula empresarial e dos EUA.
E por que guardam silêncio México, Guatemala, El Salvador e Honduras em específico? Porque falando de migrações forçadas, aceitaram militarizar a região, com a aprovação do Plano Fronteira Sul e Maya-Chortí que propuseram os Estados Unidos. Que Trump agora fale de um muro são águas passadas, que não nos digam estarem descobrindo água açucarada; o muro já existe, e vai desde Honduras até o Rio Bravo, militarizado pelos Estados Unidos, e feito de Obama, que faz pagarem com suas vidas milhares de imigrantes indocumentados.
Porque na raiz do Plano Fronteira Sul e Maya-Chortí desapareceram milhares de indocumentados, o que vem sendo uma espécie de limpeza social que vai de Honduras ao México, com o pretexto de lutar contra o tráfico de armas, indocumentados e drogas. Na fronteira entre o México e os Estados Unidos esta matança corre na conta da Patrulha Fronteiriça. O que acontece com os migrantes em trânsito que viajam aos Estados Unidos é um genocídio, com todas as suas letras.
Porque aceitar pôr em pé o Plano da Aliança para Prosperidade, e os Estados Unidos deram 750 milhões de dólares para a Guatemala, El Salvador e Honduras, abonando mais 500 milhões. E isso sem falar no Plano Mérida ou Plano México.
É pedir muito a Peña Nieto que tenha integridade e respaldo moral com seu povo diante dos insultos e a da farsa, como quando somos testemunhas do que fez seguindo seus antecessores; é a continuidade do governo de Felipe Calderón: que iniciou uma suposta guerra contra o narcotráfico, apoiada pelos Estados Unidos, que só serviu para reprimir o povo mexicano e justificar assim cada tortura, cada assassinato e cada desaparecimento. Foram milhares de meninas, adolescentes e mulheres ultrajadas por policiais e militares, com o pretexto de que trabalhariam para os carteis de drogas ou de tráfico humano.
Vemos no que se transformou em uma fossa imensa, rios de sangue, desaparições forçadas, massacres, torturas e o genocídio latente que leva centenas de vidas diariamente. Pedir a Peña Nieto que se pronuncie em defesa de seu povo é como lhe pedir para renunciar o cargo. E o que disse a OEA sobre tudo o que acontece no México em matéria de Direitos Humanos? O que dizem os Estados Unidos? Não dizem nada porque um faz e o outro solapa.
Peña Nieto não tem moral para defender seu povo de acusações estrangeiras porque ele mesmo é peão na ingerência estadunidense em seu país, governa para os EUA e para a oligarquia mexicana. Para os consórcios de empresas transnacionais. Se falarmos de ecocídio, mineração, roubo de terras, mortes, desaparições e torturas a defensores do meio ambiente e dos Direitos Humanos; o governo mexicano tem uma longa conta pendente na justiça. E se formos tocar no tema de abusos sexuais a meninas, meninos e mulheres então… isso para não falar de feminicídios.
Não precisa tanta explicação a afronta de Peña Nieto ao México e a toda América Latina, convidando e recebendo em casa mexicana Donald Trump, e com isto servindo de maquiagem para organizar um ato protocolário para sua carreira presidencial. Comum entre seres da mesma laia.
Mas não desviemos tanto a atenção do tema Trump e Peña Nieto, porque a visita foi estratégica, o que realmente é preocupante é o quarto informe do governo e a farsa que ali se detalha. O povo mexicano clama por justiça. Quantas pessoas foram torturadas, assassinadas e desaparecidas durante essa visita? Quantas meninas, meninos, adolescentes e mulheres foram violadas? Quantos feminicídios? Quantos migraram aos Estados Unidos, forçosamente, transitando fronteiras da morte? Quantos morreram na miséria da pobreza extrema e da fome? E hoje, neste momento, o que está acontecendo neste México do qual nos falam os meios de comunicação monopolizados? Guardar silêncio diante do genocídio que está vivendo o povo mexicano em mãos do governo Peña Nieto é desumano, e nos transforma a todos em cúmplices.
A afronta de Peña Nieto não é ter recebido Trump em terras mexicanas, mas governar para os Estados Unidos e oligarquias nacionais e internacionais; sacrificando sua gente, deixando o mais pelo menos. Ruim assim. É uma afronta ao México, à América Latina e a toda humanidade.
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